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XiqueXique dos Bundões e Marrões

10/10/2015


 
Fernando Altenfelder Filho  partiu de São Paulo em 18 de janeiro de 1952, para desenvolver um trabalho de pesquisa  e conhecer as comunidades ribeirinhas do São Francisco. Alcançou a cidade de Pirapora no dia 21 daquele mesmo mês e ano. A bordo do vapor Djalma Dutra desceu  o Velho Chico, desembarcando em Xique-Xique em 29 de janeiro.

Em Xique-Xique permaneceu até o dia 18 de junho de 1952, tendo realizado um formidável trabalho de cunho antropológico que resultou no livro “Xique-Xique e Marrecas”, editado em 1961 pela Comissão do Vale do São Francisco.

Impressionei-me  lendo esse Livro pela originalidade e seriedade da pesquisa garimpada por  Altenfelder Filho que dissecou as raízes históricas de Xique-Xique, ao abordar o cotidiano do nosso município, a sua estrutura política, social e econômica do limiar dos anos 50 do século passado.

Nas famílias antigas predominavam os pescadores distinguindo-se, entre eles, a família do pescador Manoel Por Baixo,  a quem tive a oportunidade de conhecer.

Na classe,  digamos “dominante”, que controlava politicamente o município, destacavam-se as famílias Xavier Guimarães, Moreira Bastos, Sousa Nogueira, Figueiredo Bastos,  Bessa, Soares, Morais, Peregrino de Sousa, Marinho Carvalho, Miranda, Teixeira, Sampaio e Gomes Barreto.

A estrutura política pesquisada pelo professor Altenfelder, parece  insistir no tempo.
Nos primórdios do Século XX as lutas políticas dividiram Xique-Xique em dois grupos opostos liderados pelos “Bundões” e “Marrões” os quais  resolviam suas pendências por meio de lutas armadas, porquanto as eleições eram meramente simbólicas, pois, não raro, o partido derrotado não aceitava perder, recorrendo às armas para tentar anular as eleições à base de tiro. Anulavam e tomavam o poder.

O partido político apelidado de “Bundões” foi imortalizado no ABC do São Francisco:  Xique-Xique, para os remeiros cantadores, era  dos "Bundões”. Qual seja: "Xique-Xique dos Bundões".

Desenvolviam-se as eleições com o uso exagerado do clientelismo, do populismo e do compadrismo, havendo ligação direta dos candidatos com o seu eleitorado, exigindo-se, ao menos na época das eleições, uma visita pessoal  ao eleitor que ficava satisfeitíssimo com a visita, ao ponto de um declarar: "Aqui todos votam com X. Porque ele é um homem sem bondade! Chega, abraça todo mundo, toma um café, paga umas bebidas e vai dizendo logo: “Eu não vim pedir voto, porque eu sei que vocês votam comigo!”

Havia, no entanto, desencantamento da parte de alguns que não enxergavam motivo ou objetivo de dar o seu voto: “Eu não voto. Aqui em casa não dão nada  pra se votar. Nem óculos. Nem sapato. Nem tijolo. Nem camisa. Por isso não voto”. Durante a eleição, diz Altenfelder, esse informante costumava fugir para a caatinga.

Parece-me que as “fenomenologias”  políticas em Xique-Xique mudaram até certo ponto. O eleitorado, apesar das paixões que ainda perduram, obtiveram mais informações por intermédio da mídia globalizada. Há mais cobranças de resultados, quer na zona rural ou na urbana.

Embora tênue, há mais fiscalização dos gastos públicos.

O analfabetismo diminuiu no município, mas a sua erradicação deixa muito a desejar. 
Não há em Xique-Xique a miséria absoluta, embora os bolsões de pobreza ainda são vistos a olhos nus, aliás,  invariáveis no sertão nordestino sem grandes indústrias geradoras de emprego.

Convém lembrar que o trabalho materializado no Livro “Xique-Xique e Marrecas” foi realizado há 60 anos, na década de 50.

O espaço aqui é exíguo para o tema. Entretanto, prometo voltar ao assunto.
 
Nilson Machado de Azevedo

1 comentários:

Caraíba de Irecê disse...

Além de bundões aí em Xique-Xique tem muito bunda mole.

8/10/15 09:42

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