E se Aécio fosse Presidente? É
uma pergunta boa para estes tempos. Muitos a têm formulado, e as respostas em
geral são estapafúrdias.
Delfim Netto, por exemplo, disse
que Aécio teria tomado as providências certas para conter a crise. Mas um
momento: quais são as providências certas?
Aécio prometeu antes da
campanha, num ambiente de plutocratas, “medidas impopulares”. Depois, num
estelionato que só não se concretizou porque ele perdeu, negou as “medidas
impopulares”. Mas é evidente que ele iria tomá-las. Basicamente, cortes em
programas sociais.
Aécio é comprometido demais com
a plutocracia para fazer qualquer coisa que fira seus interesses.
Teríamos, na especulação de um
Aécio presidente, as “medidas impopulares” que privadamente ele defendeu e
publicamente renegou. Mas ele não seria acusado de estelionato. E eis um ponto
vital para compreender o que seria a Presidência de Aécio: a mídia iria mudar
completamente de atitude.
A crise seria mundial. Jornais e
revistas mostrariam a China apanhando, os Estados Unidos apanhando, a Alemanha
apanhando – todo mundo enfim apanhando.
Um baixo crescimento em 2016
seria tratado como um feito.
Quem conhece o mínimo do
trabalho numa redação sabe como é fácil substituir a vaia pelo aplauso em
circunstâncias iguais.
Aécio reproduziria, em escala
nacional, o que fez em escala regional em seus anos de governador de Minas.
Encheria de anúncios a mídia amiga, numa retribuição aos carinhos recebidos. E
asfixiaria a imprensa independente.
Poderíamos ter o
restabelecimento do monopólio de voz e opinião das grandes corporações, sem os
sites que com imensos sacrifícios serviram e servem de contraponto à Globo, à
Veja, à Folha etc.
A Abril, agonizante pelas regras
do mercado, ganharia uma sobrevida com o dinheiro público que Aécio lhe
canalizaria.
Não são só anúncios, embora
sejam a parte maior da mãozinha. São empréstimos de bancos oficiais, compras de
livros e de assinaturas, isenções de impostos e outras marmeladas com que
sucessivos governos brindaram Globo, Abril, Folha, Estadão e
por aí vai.
O clima funéreo que domina o
noticiário hoje seria magicamente substituído por um tom otimista. É conhecida
a frase do general Médici a respeito do Jornal Nacional no auge da ditadura. “O
mundo em colapso, e o Brasil uma beleza no JN”, disse Médici.
Essencialmente, seria
restabelecida a mesma lógica de seleção de notícias. E então, como que num
milagre, a corrupção desapareceria – não da dura realidade, mas das páginas de
jornais e revistas.
É só não dar.
Tudo isso embalaria uma brutal
acentuação da desigualdade no país. O receituário de Aécio é, a exemplo do de
FHC, uma cópia da fórmula de Margaret Thatcher.
Nos países desenvolvidos, o
thatcherismo levou a uma selvagem concentração de renda. Se isso não fosse o
bastante, levou também à crise econômica de 2008, que até hoje castiga o mundo.
Na origem da crise, está a
desregulamentação dos bancos, tão fortemente defendida pelos seguidores de
Thatcher.
Entregues à próprio ganância,
sem nenhum tipo de freio e controle, os bancos fizeram negócios com um risco
altíssimo de inadimplência – e quebraram.
A conta foi paga pelo
contribuinte, por meio dos bilhões e bilhões de dólares que os bancos centrais
dos países desenvolvidos puseram nos seus bancos para evitar uma quebradeira.
A desigualdade, sob Aécio,
avançaria, mas isso também não seria notícia na imprensa. Nunca foi, aliás, e o
motivo é que os donos das empresas de jornalismo sempre se beneficiaram da
estrutura iníqua que marca o Brasil. Basta ver o patrimônio deles.
Seria este o Brasil sob Aécio:
plácido, firme, só que de mentirinha. Para resumir: seria infinitamente pior.
A sociedade tem todos os motivos
para dar graças a Deus pela derrota de Aécio e de tudo aquilo que ele
representa.
Paulo Nogueira-via DCM
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