Por essas pretensões desnecessárias que me forçam o aprendizado
constante, estive a frequentar um curso de extensão de antropologia na
Universidade Federal da Bahia, daí porque cheguei a impressão aligeirada de que
o homem não está relegado a um plano inferior na hierarquia da natureza. Muito
pelo contrário, todos somos altos espíritos incorporados à matéria.
Um dia como outro qualquer encontrei um colega do referido curso, obcecado em desvendar os mistérios do poder dos homens.
Contou-me em linguagem metafórica que em determinada fazenda às margens do rio São Francisco, não havia bois zebus premiados. Até que apareceu um premiadíssimo. O imponente e soberbo bovino tornou-se atração em toda região e, em razão disso, ninguém reparava mais os animais comuns, a exemplo dos humildes cães vira-latas.
Aconteceu que um dos canídeos, numa bela manhã de 7 de outubro, dia de eleições, começou a latir furiosamente e avançou enfrentando o Zebu. De efeito, naquele instante, a atenção de todas as pessoas se voltou, incontinenti, para o pobre e insignificante vira-lata, dando-lhe votos de confiança, elogiando a sua esplêndida coragem de investir contra o colosso dos pastos...
A moral interpretativa desta história, conforme veio a explicar-me o próprio narrador, é de que o nosso heroico vira-lata havia conquistado e cativado as pessoas em razão da sua articulada rebeldia contra as injustiças do poder até então vigente naquele sítio.
Fiz esse exórdio porque o nosso colega do curso de extensão é, ainda hoje, constantemente apontado pela sua excentricidade. Vão mais longe ao afirmarem que ele pirou, ou seja, ficou maluco, doido varrido, por haver estudado excessivamente.
Com os meus botões fico a pensar que desde estudante das Escolas Reunidas César Zama, em Xiquexique, sempre ouvi a conversa de que quem estuda muito fica lelé da cuca, fraco do juízo.
É certo que em nossa cultura esse mito tem força extraordinária. É muito comum se associar estudo e loucura como se um puxasse o outro naturalmente.
Por sinal, é costume de muitos recorrerem ao exemplo de uns poucos que venceram na vida sem estudar, evidenciando-se, nomeadamente, o medo que se tem da loucura, quando se deveria ter o prazer de descobertas que jamais seriam realizadas sem a aquisição de conhecimento pelo método formal. Embora, ouso a acreditar, a erudição excessiva mata a imaginação e atulha o cérebro em face de pormenores extravagantes.
Neste epílogo, para não perder a coerência tabelada e oficial serei inédito e criativo a testificar o provérbio português que de médico, advogado, poeta e louco todos nós temos um pouco. Sendo assim, vou reler "O Alienista" de Machado Assis antes que algum aventureiro me arrebate o trono para colocar-me no tronco da Gaia Ciência, uma vez que o xiquexiquense a protagonizar esta matéria é adepto e seguidor de Dr. Simão Bacamarte, o personagem machadiano.
Nilson Machado de Azevedo
Um dia como outro qualquer encontrei um colega do referido curso, obcecado em desvendar os mistérios do poder dos homens.
Contou-me em linguagem metafórica que em determinada fazenda às margens do rio São Francisco, não havia bois zebus premiados. Até que apareceu um premiadíssimo. O imponente e soberbo bovino tornou-se atração em toda região e, em razão disso, ninguém reparava mais os animais comuns, a exemplo dos humildes cães vira-latas.
Aconteceu que um dos canídeos, numa bela manhã de 7 de outubro, dia de eleições, começou a latir furiosamente e avançou enfrentando o Zebu. De efeito, naquele instante, a atenção de todas as pessoas se voltou, incontinenti, para o pobre e insignificante vira-lata, dando-lhe votos de confiança, elogiando a sua esplêndida coragem de investir contra o colosso dos pastos...
A moral interpretativa desta história, conforme veio a explicar-me o próprio narrador, é de que o nosso heroico vira-lata havia conquistado e cativado as pessoas em razão da sua articulada rebeldia contra as injustiças do poder até então vigente naquele sítio.
Fiz esse exórdio porque o nosso colega do curso de extensão é, ainda hoje, constantemente apontado pela sua excentricidade. Vão mais longe ao afirmarem que ele pirou, ou seja, ficou maluco, doido varrido, por haver estudado excessivamente.
Com os meus botões fico a pensar que desde estudante das Escolas Reunidas César Zama, em Xiquexique, sempre ouvi a conversa de que quem estuda muito fica lelé da cuca, fraco do juízo.
É certo que em nossa cultura esse mito tem força extraordinária. É muito comum se associar estudo e loucura como se um puxasse o outro naturalmente.
Por sinal, é costume de muitos recorrerem ao exemplo de uns poucos que venceram na vida sem estudar, evidenciando-se, nomeadamente, o medo que se tem da loucura, quando se deveria ter o prazer de descobertas que jamais seriam realizadas sem a aquisição de conhecimento pelo método formal. Embora, ouso a acreditar, a erudição excessiva mata a imaginação e atulha o cérebro em face de pormenores extravagantes.
Neste epílogo, para não perder a coerência tabelada e oficial serei inédito e criativo a testificar o provérbio português que de médico, advogado, poeta e louco todos nós temos um pouco. Sendo assim, vou reler "O Alienista" de Machado Assis antes que algum aventureiro me arrebate o trono para colocar-me no tronco da Gaia Ciência, uma vez que o xiquexiquense a protagonizar esta matéria é adepto e seguidor de Dr. Simão Bacamarte, o personagem machadiano.
Nilson Machado de Azevedo
3 comentários:
Nada no mundo é natural,
25/1/16 08:44a vida é uma completa loucura.
Pra viver neste mundo, seja louco ou seja sábio.
25/1/16 08:49Até que em fim este blog comunista tá dando uma trégua hoje.
25/1/16 13:31Postar um comentário
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