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Acarajé leva governo a comprar briga com Moro

2/24/2016






Depois de pouco mais de dois anos de Operação Lava Jato, o governo federal chegou à conclusão de que o objetivo do juiz Sergio Moro, que conduz a força-tarefa curitibana, é contribuir para a derrubada da presidente Dilma Rousseff e impedir a eventual volta do ex-presidente Lula ao poder; a gota d'água foi a etapa batizada como Acarajé, que levou à prisão o marqueteiro João Santana; nesta quarta-feira, o ministro Ricardo Berzoini afirmou que a Lava Jato "está comandada por uma visão midiática e uma tentativa de criar um clima de constrangimento no país"; a partir de agora, Moro não será mais tratado como um juiz isento pelo governo federal, mas como o braço jurídico de uma oposição, liderada pelo senador Aécio Neves, disposta a encontrar atalhos para o poder



Foram necessários pouco mais de dois anos de Operação Lava Jato para que o governo federal se convencesse de que o juiz Sergio Moro, que conduz força-tarefa curitibana, possui uma agenda política, que contempla objetivos como a destruição do Partido dos Trabalhadores, a derrubada da presidente Dilma Rousseff e a inviabilização da eventual volta do ex-presidente Lula ao poder.

Essa conclusão foi tomada pelo núcleo político do governo federal após a mais recente etapa da Lava Jato, batizada como Acarajé, que levou à prisão o marqueteiro João Santana, responsável pela campanha da presidente Dilma Rousseff. Isso fará com que, a partir de agora, ministros do governo federal passem a confrontar explicitamente as posições do juiz paranaense e de integrantes da força-tarefa.

O primeiro a agir dessa maneira foi Ricardo Berzoini, ministro da Articulação Política. Ele afirmou, em entrevista à agência Reuters, que há uma tentativa de se fazer um "impeachment cautelar" para evitar a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2018. Depois de afirmar que "algumas coisas no Brasil estão sendo tratadas de maneira muito precipitada", Berzoini foi questionado se essa era uma crítica direta ao juiz Moro. "Claro que é uma crítica. Eu acho que a lógica desse processo (operação Lava Jato) está comandada por uma visão midiática e uma tentativa de criar um clima de constrangimento no país", disse o ministro.

Integrantes do núcleo político do governo federal se convenceram de que o objetivo da etapa Acarajé é justamente alimentar as quatro ações movidas no Tribunal Superior Eleitoral pelo PSDB que pedem a cassação da chapa Dilma-Temer e a diplomação do senador Aécio Neves (PSDB-MG) como novo presidente da República.

Há também indignação no governo federal com o fato de nada ter sido feito em relação ao senador Aécio, no âmbito da Lava Jato. Embora tenha sido citado por vários delatores, seus casos têm sido arquivados nos tribunais superiores por falta de provas. O que se diz, no Palácio do Planalto, é que não há provas porque não houve empenho, por parte da força-tarefa curitibana, em buscá-las. Aécio já foi citado como responsável por um mensalão em Furnas, durante o governo FHC, e como o "mais chato" cobrador de propinas da UTC.

A mudança do governo federal em relação a Moro e sua equipe representa uma inflexão importante. Até agora, nenhum ministro, em especial José Eduardo Cardozo, da Justiça, ousava fazer qualquer crítica à Lava Jato. Ao contrário, o que se dizia era que a Lava Jato era mérito do governo federal, que permitia toda e qualquer investigação, doa a quem doer.

A partir de agora, no entanto, Moro passará a ser confrontado por diversos ministros. Talvez, porque a água tenha batido no pescoço.

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