Os símbolos mais significativos da
identidade de São Paulo são radicalmente conservadores: os bandeirantes e 1932.
Os bandeirantes, cujo ícone está plasmado na horripilante estátua do Borba
Gato, bem como no nome de tantas estradas, avenidas, ruas, praças e outros
espaços públicos, foram, literalmente, caçadores de índios.
E 1932 representa o sentimento
elitista e racista da elite paulista, que se considera personificação da
civilização, em contraste com a barbárie e o atraso do resto do país. A
aventura derrotada de 1932 representou a tentativa de restabelecer o poder dos
coronéis e dos latifundiários do café, que tiveram em Washington Luis – carioca
adotado pela elite paulista, como mais tarde FHC -, autor da frase "a
questão social é questão de polícia", seu último presidente.
Desde então, a elite paulista sofreu
as derrotas diante das novas lideranças ascendentes, que tiveram em Getúlio
Vargas seu ícone maior. Depois de tentar derrubá-lo pelas armas, a direita,
liderada pela elite paulista, foi sucessivamente derrotada nas eleições de
1945, 1950, 1955, até que ganhou efemeramente com Jânio Quadros –
mato-grossense adotado pela elite paulista -, mas só voltou ao poder pela
ruptura violenta da democracia pelo golpe militar de 1964 e a ditadura imposta
pelo terror ao país durante 21 anos.
Com a queda prematura do seu então
novo herói, Fernando Collor de Mello, FHC se prestou a ser o novo líder da
direita, em quem a elite paulista se representou euforicamente. Até que o
fracasso do seu governo levou às vitórias de Lula e do PT, democraticamente, em
quatro eleições sucessivas.
A direita paulista seguiu agitando a
ideologia de 1932, de ódio ao "populismo" de quem reconhecia os
direitos do povo e distribuía renda, fortalecia o Estado, desenvolvia política
externa soberana, negava a questão social como questão de polícia. 1932 deste ano
encontra essa elite no governo, por um novo golpe, esta vez de caráter
jurídico-parlamentar-midiático, mas com os mesmos ideais.
Ódio ao povo e a seus
líderes, a começar, agora, por Lula. Aos sindicatos, aos movimentos sociais,
aos direitos dos trabalhadores, ao patrimônio nacional, à independência diante
do EUA. Vale-se dos liberais de turno para retomar o "não sou comandado,
comando", só que agora não em nome dos latifundiários do café –
proprietários dos antigos casarões da Avenida Paulista -, mas dos banqueiros –
que erigiram os horrorosos edifícios de vidro fumê, substitutos daquele
casarões. Herda também a tradição dos bandeirantes, tentando emplacar um
general na Funai.
O racismo é um dos eixos de
continuidade da elite branca de São Paulo, agora contra os nordestinos, contra
as empregadas domésticas, contra os novos frequentadores dos aeroportos, contra
o dedo de Lula perdido na máquina em prol do progresso de São Paulo, contra o
próprio Lula, a democracia e o povo brasileiro.
Gostariam de ficar os 21 anos da
ditadura militar, mas podem perfeitamente permanecer apenas o tempo efêmero do
presidente Jânio e seguirem sendo derrotados, como FHC e os tucanos, se a
democracia prevalecer.
Brasil247
Emir Sader
Emir Sader
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