Enquanto a
presidente eleita Dilma Rousseff mantém sua agenda de encontros com a
população, como fez ontem num evento que discutiu moradia popular, o interino
Michel Temer discute, a portas fechadas, a supressão de direitos trabalhistas,
como na reunião com Robson Andrade, da Confederação Nacional da Indústria, que
defendeu uma jornada de 80 horas semanais; proposta é tão esdrúxula que faria
com que o Brasil retrocedesse a uma era pré-revolução industrial, quando até as
crianças trabalhavam nas manufaturas inglesas
Lá se vão quase
dois meses de governo provisório e ainda não se viu uma foto de Michel Temer
junto à população brasileira. O interino se mantém trancado nos palácios
ou em reuniões fechadas com grupos de empresários.
Ontem, ele
participou de uma reunião na Confederação Nacional da Indústria, que discutiu a
ampliação da jornada de trabalho de 40 horas para 80 horas semanais. A
ideia foi levada a Temer por Robson Andrade, presidente da CNI, e vai na
contramão do mundo, que discute a redução de jornada como forma de criar mais
empregos.
No Brasil de Temer,
prosperam ideias que fazem lembrar o início da revolução industrial, quando
crianças trabalhavam vinte horas por dia na Inglaterra.
Temer falou com
naturalidade sobre as propostas levadas pela CNI. "Ainda agora o
Robson me propunha: 'Olha, nesse projeto aí poderia pensar-se no seguinte:
alguma fórmula pela qual perícia médica pudesse dizer que, já que ele está com
problema, alguém está com problema, ele trabalharia apenas meio-dia'. E ele me
deu um exemplo claríssimo: se ele está com depressão, se ele ficar em casa é
capaz de ficar mais deprimido. Então, quem sabe, em certos momentos, você pode
usar essa fórmula".
Dilma com o povão
Num Brasil de um
governo sem voto, ideias desse tipo têm sido discutidas como se não houvesse
uma sociedade civil disposta a lutar por direitos e conquistas trabalhistas.
É tão aberrante que a presidente Dilma Rousseff se espantou ao saber da
proposta das 80 horas, quando participava de um evento sobre moradia popular em
São Paulo – ela, sim, ao lado da população. "Será que é verdade essa
proposta que está circulando na internet?", perguntou Dilma em seu
discurso, incrédula. "Esse absurdo a gente só escuta quando o governo
provisório, sem compromisso com o povo, assalta o poder. E como uma horda de
bárbaros, tenta estabelecer uma volta atrás em conquistas que não são de 13
anos pra cá, são conquistas que nós atingimos em 1950, em 1942. Isso é um
absurdo", protestou.
Pai da proposta das 80 horas, Robson
Andrade era tido como um empresário moderado. Mas, com Temer, sentiu-se à
vontade para propor um retrocesso que praticamente traria de volta a escravidão
nas relações de trabalho. Um disparate tão grande que fez com que Fernando
Brito, editor do Tijolaço, chamasse de volta a princesa Isabel (leia aqui).
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