Amanhecia quando
avistamos a tradicional cidade da Barra debruçada sobre o Velho Chico, com seus
casarões e sobrados coloniais destacando-se o Mercado Cotegipe de arquitetura
barroco-rococó, além dos chafarizes e das estátuas em bronze, esculpidas pelo
barrense Diocleciano Martins de Oliveira, com distinção para a estátua de São
Francisco a contemplar o rio sagrado.
O sol já polia de
ouro as maretas no espetáculo do encontro das águas do Velho Chico e do rio
Grande. Assim, neste cenário de tradições e de cultura desembarcamos no porto
principal da Cidade dos Barões, adotada por Frei Luiz Cappio.
Na Praça
Cotegipe, defronte ao centenário mercado, José Felix acompanhado dos
recém-casados Afonso e Vânia Lúcia, nos esperava com o seu Toyota, tração nas
quatros rodas, para rompermos a estrada ou trilhas de areia em direção aos Brejos da
Barra, os oásis, dádivas da natureza do sertão são franciscano.
Percorremos alguns
quilômetros de areal, vislumbrando paradisíacas paisagens formadas por dunas,
córregos de águas cristalinas e buritizeiros, quando chegamos ao povoado de
Olhos D'água. Era um dia de domingo. Algumas jovenzinhas brejeiras tomavam
banho no riacho de águas transparentes, tendo os mangueirais nas suas margens
assombreando o éden.
Os periquitos e os
passarinhos cabeças-vermelhas, em voos rápidos e rasteiros, molhavam as pontas
de suas asas coloridas.
No povoado, todos já esperavam pelos noivos e com fogos de artifício e rojões os recepcionaram: "Vivam os noivos e as suas distintas famílias", aclamavam!
Formou-se, então, o
cortejo. A noiva Vânia Lúcia ia à frente pelo braço do padrinho, seguida pelas
mulheres. Depois vinham os homens, parentes e amigos do noivo Afonso. No
percurso até a residência dos pais da noiva, cantavam esta toada:
Viva o noivo, viva a noiva
Viva o padre que os juntou
Viva quem já é casado
Viva quem nunca casou...
No alpendre da casa
do pai da noiva, as caixas de som vibravam uníssonas com músicas sertanejas.
Tocavam ainda forró de Luiz Gonzaga e, para o meu espanto, tocavam Bob Marley. No
woman no cry. Tudo isso regado à cerveja, vinho jurubeba, meladinha, licor
de murici e muita aguardente catuzeira fabricada ali mesmo. Serviram-nos
tira-gosto de buchada de bode , caldo de cabeça de piranha e asas de
frango do pescoço pelado.
O dia entrou pela noite e a noite pelo dia quando os noivos, a essa altura, já
haviam sumido. Prosseguiram-se, no entanto, a festa e os cochichos das
donzelinhas brejeiras, tímidas e trigueiras, ansiosas por esperar a vez das
suas núpcias.
Depois de passar uma
semana de andanças pelos brejos da Barra, retornei a XiqueXique onde
estou a escrever este texto num quarto de hotel e a meditar sobre a
próxima aventura que, decerto, farei em outras terras muito longe daqui.
Nilson Machado de Azevedo
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