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BREJOS DA BARRA, UMA FICÇÃO

7/08/2016




Amanhecia quando avistamos a tradicional cidade da Barra debruçada sobre o Velho Chico, com seus casarões e sobrados coloniais destacando-se o Mercado Cotegipe de arquitetura barroco-rococó, além dos chafarizes e das estátuas em bronze, esculpidas  pelo barrense Diocleciano Martins de Oliveira, com distinção para a estátua de São Francisco a  contemplar o rio sagrado.

O sol já polia de ouro as maretas no espetáculo do encontro das águas do Velho Chico e do rio Grande. Assim, neste cenário de tradições e de cultura desembarcamos no porto principal da Cidade dos Barões, adotada por Frei Luiz Cappio.

Na  Praça Cotegipe, defronte ao centenário mercado, José Felix acompanhado dos recém-casados Afonso e Vânia Lúcia, nos esperava com o seu Toyota, tração nas quatros rodas, para rompermos a estrada ou trilhas de areia em direção aos Brejos da Barra, os oásis, dádivas da natureza do sertão são franciscano.

Percorremos alguns quilômetros de areal, vislumbrando paradisíacas paisagens formadas por dunas, córregos de águas cristalinas e buritizeiros, quando chegamos ao povoado de Olhos D'água. Era um dia de domingo. Algumas jovenzinhas brejeiras tomavam banho no riacho de águas transparentes, tendo os mangueirais nas suas margens assombreando o éden.

Os periquitos e os passarinhos cabeças-vermelhas, em voos rápidos e rasteiros, molhavam as pontas de suas asas coloridas.

No povoado, todos já esperavam pelos noivos e com fogos de artifício e rojões os recepcionaram: "Vivam os noivos e as suas distintas famílias", aclamavam!

Formou-se, então, o cortejo. A noiva Vânia Lúcia ia à frente pelo braço do padrinho, seguida pelas mulheres. Depois vinham os homens, parentes e amigos do noivo Afonso. No percurso até a residência dos pais da noiva, cantavam esta toada: 
                               
                               
                                 Viva o noivo, viva a noiva
                                 Viva o padre que os juntou
                                 Viva quem já é casado
                                 Viva quem nunca casou...

No alpendre da casa do pai da noiva, as caixas de som vibravam uníssonas com músicas sertanejas. Tocavam ainda forró de Luiz Gonzaga e, para o meu espanto, tocavam Bob Marley. No woman no cry. Tudo isso regado à cerveja, vinho jurubeba, meladinha, licor de murici e muita aguardente catuzeira fabricada ali mesmo. Serviram-nos  tira-gosto de buchada de bode , caldo de cabeça de piranha e asas de frango do pescoço pelado.


O dia entrou pela noite e a noite pelo dia quando os noivos, a essa altura, já haviam sumido. Prosseguiram-se, no entanto, a festa e os cochichos das donzelinhas brejeiras, tímidas e trigueiras, ansiosas por esperar a vez das suas núpcias.

Depois de passar uma semana de andanças pelos brejos da Barra, retornei a  XiqueXique onde estou a escrever este texto num quarto de hotel e  a meditar sobre a próxima aventura que, decerto, farei em outras terras muito longe daqui.


Nilson Machado de Azevedo

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