Desde
que o senador Aécio Neves (PSDB-MG), derrotado nas eleições presidenciais de
2014, e o ex-deputado Eduardo Cunha se aliaram para sabotar a presidente Dilma
Rousseff no Congresso e criar as condições para o impeachment, apostando no
"quanto pior, melhor", as empresas brasileiras só demitiram; dados do
Caged, divulgados nesta sexta-feira, revelam que já são 17 meses seguidos de
demissões, que levaram 1,65 milhão de brasileiros ao desemprego; Michel Temer e
Henrique Meirelles, que já estão no poder desde 13 de maio, ou seja, há mais de
quatro meses, não foram capazes de resgatar a confiança e já não podem mais
falar em "herança maldita"; conta do golpe será paga pelas próximas
gerações
Nunca é demais recordar: em agosto de 2014, a economia brasileira vivia
uma situação de "pleno emprego". A taxa de desemprego, segundo o
IBGE, era de apenas 5% – a menor de toda a série histórica com os critérios
atuais, iniciada em 2002 (relembre aqui).
O ministro da
Fazenda era Guido Mantega, preso e solto nesta semana, na mais polêmica etapa
da Operação Lava Jato. Acusado frequentemente de "quebrar a economia
brasileira", Mantega foi o ministro que entregou as maiores taxas de
crescimento da história recente do País (no governo Lula) e os menores níveis
de desemprego (no governo Dilma).
Poucos meses depois
daquele agosto fantástico, logo depois de ser reeleita para o segundo mandato,
a presidente Dilma Rousseff reconheceu que o novo quadro internacional, com a
queda das commodities e o esgotamento das medidas de estímulo, exigia um ajuste
fiscal. Decidiu trocar Mantega por Joaquim Levy, que planejava colocar em
marcha um rápido plano de controle orçamentário, que previa a volta da CPMF e o
reequilíbrio das contas públicas.
Tudo parecia certo, mas não havia pintado ainda no horizonte a aliança
entre o senador Aécio Neves (PSDB-MG), derrotado nas eleições presidenciais de
2014, e o hoje cassado deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Juntos, ambos fizeram
com que a agenda do País passasse a ser dominada pelo tema do impeachment,
contando com o auxílio luxuoso dos meios de comunicação conservadores.
Se isso
não bastasse, colocaram em pauta no Congresso as "pautas-bomba", que
arrombavam as contas públicas e impediam qualquer iniciativa de ajuste. Era a
tática do "quanto pior, melhor", defendida publicamente por alguns tucanos,
como Alberto Goldman, como estratégia para se conseguir o impeachment (saiba
mais aqui).
O resultado foi a
deterioração progressiva da economia brasileira, que criou as condições para o
crescimento dos protestos de rua. Além disso, o avanço da Operação Lava Jato
prejudicava setores inteiros da economia, como a construção pesada e a
indústria naval, aumentando a massa de desempregados.
O resto da história é conhecido. Dilma foi afastada, o PMDB está no
poder e o PSDB, que apostou no 'quanto pior, melhor', hoje posa de bom moço,
cobrando de Michel Temer cortes de gastos e reformas estruturais na economia. A
Petrobras vende ativos a toque de caixa, em processos com pouca transparência,
no que vem sendo definido pelos petroleiros como um crime de lesa-pátria (leia
mais aqui).
17 meses de demissões
Quem ganhou com isso? Os brasileiros, certamente, não. Com os dados do
Caged divulgados nesta sexta-feira, soube-se que a confiança prometida por
Temer e Meirelles não voltou. Ao contrário, as empresas continuam demitindo,
ainda que num ritmo menor, e agosto foi o décimo-sétimo mês seguido de
demissões. Em um ano, a crise brasileira produziu 1,65 milhão de desempregados
a mais (saiba mais aqui).
Em Nova York, Temer
e sua equipe tentaram vender otimismo a investidores. Meirelles disse que, a
partir de agora, o preço das concessões será dado pelo mercado – como se as
concessões do governo Dilma tivessem sido um fracasso. O problema é que a
história desmente essa versão. Basta notar as transformações recentes dos
aeroportos de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Campinas.
Quem hoje de fora
olha para o Brasil enxerga uma economia arruinada, um Poder Judiciário
hipertrofiado, empresários amedrontados, e alguns sendo obrigados a depositar
fianças bilionárias para, simplesmente, ter o direito de entrar nas próprias
empresas. Por mais que se venda "segurança jurídica", os donos do
capital não são idiotas.
O resultado final é
uma economia em círculo vicioso: menos emprego, menos renda, menos consumo,
menos investimento, menos arrecadação e contas públicas – o pretexto para o
golpe – ainda mais arrombadas. Não por acaso, a única realização obtida até
agora pela equipe econômica foi a ampliação do déficit em mais de R$ 100
bilhões.
Valeu a pena
destruir o Brasil para retirar o PT do poder? Os que hoje estão no poder e os
que tentam contar uma história oficial a partir dos meios de comunicação
associados ao golpe dirão que sim. Mas a conta ficou pesada demais e será paga
pelas próximas gerações. Por muitos e muitos anos.
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