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A CHEIA

12/07/2018


Xique-Xique submergiu, literalmente, nos anos de 1979 e 1980, com reflexos negativos para a economia local perdurando pelos anos subsequentes.
 
Houve erro de cálculo e de planejamento dos agentes milagreiros, prepostos do governo militar.

É forçoso lembrar que as turbinas da Hidrelétrica de Sobradinho proporcionaram a claridade elétrica nas ruas, praças, avenidas, becos, adjacências e quebradas da nossa urbe barranqueira, desdenhando do velho motor, movido a óleo diesel, da precária usina localizada na rua Grande.

A antiga "usina da luz" ditava as regras, exteriorizadas em três sinais, para os jovens que se divertiam à noite "rodando" no jardim da Praça Dom Máximo. O três sinais vindos da usina era o recado do apagão rotineiro das 23 horas. A partir desse horário Xique-Xique ficava na escuridão soturna. Surgia, então, o clarão poético do brilho fulgente da lua.

Os notívagos, os boêmios contumazes, regozijavam-se nas noites de plenilúnio quando o luar refletia nas águas mansas da ipueira, a inspirar as serenatas de violão e de radiola dos amantes à moda antiga.

A rua do Perau então notabilizava-se. O restaurante de Neném Facilita era de utilidade pública nas noites estreladas dos poetas e seresteiros. Noites estreladas a lembrarem uma tela de Van Gogh.

Concorria, única e exclusivamente com Neném, naquelas madrugadas de quietude, o restaurante de Luizinho, onde se contava a história dos abusos sádicos perpetrados contra a pobre rapariga Maria Bandinha, trucidada covardemente, sem remorsos.

Mas a dinâmica do tempo real deletou toda esta história, de mais baixos do que de altos, e Xique-Xique se transformou, metamorfoseando-se tal qual uma crisálida na flor do mandacaru.

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