Outra vez mais estou aqui em São Paulo, nesta pauliceia desvairada a participar de cursos, na tradicional Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, sobre Ciência Política e Direito Constitucional.
Corta a cena pela madrugada para se fixar no quarto do hotel, quando estou insone.
Nestas circunstâncias, leio e releio trechos de uns rascunhos sócio-políticos que me foram repassados por estudantes de direito paranaenses que estão a participar dos cursos já mencionados, todavia à deriva do que pretendo de fato e de direito.
Corta a cena pela madrugada para se fixar no quarto do hotel, quando estou insone.
Nestas circunstâncias, leio e releio trechos de uns rascunhos sócio-políticos que me foram repassados por estudantes de direito paranaenses que estão a participar dos cursos já mencionados, todavia à deriva do que pretendo de fato e de direito.
Em face do que lí e relí, por falta de sono, nessas apostilas dos paranaenses, hei de considerar espantoso como a maioria dos paulistanos, segundo os citados textos dos paranaenses, não tem a capacidade de relacionar a péssima qualidade de vida em São Paulo ao desempenho dos governantes que elege.
O PSDB de Alckmin, José Serra e Fernando Henrique Cardoso, por conseguinte, chuta-lhes o traseiro há uns 20 anos e eles quase que se desculpam por oferecê-lo seguidamente, a cada eleição. Muitos filmam o caos em que vivem pelo celular, guardam de recordação ou publicam no Youtube e no Facebook.
Enchentes, congestionamento humano surreal nas estações do metrô, trombadinhas, menores de periculosidade significativa, traficantes vendendo droga para os burgueses paulistanos e os assaltantes em ação…
E quando chega na frente da urna, “alguma coisa acontece em seus corações” e lá vão eles de novo votar no mesmo PSDB!
Ser conservador, reacionário ou um idiota completo em São Paulo não tem origem, acreditem, na educação, raça ou nível social. É o resultado de uma longa e profunda convivência com a mídia paulista e paulistana e isso já foi tema de pesquisa sociológica até na Unicamp.
A maioria dos habitantes, tanto de Itaquera, São Miguel Paulista e Guaianases, quanto de Moema, Vila Nova Conceição, Vila Olímpia até a plutocracia do Jardim Europa, não liga para política e políticos porque “tem mais o que fazer”. E quando não dá pra fugir do assunto, faz cara de esperto e sentencia: “todos os políticos são iguais; todos roubam desde a época do governador Ademar de Barros que roubou e fez".
Vão naquela linha do “poder que corrompe” etc… Enganam os mais distraídos, já que não querem ou não têm conhecimento para se aprofundar na questão. E para não se dar ao trabalho de pensar, comparam candidatos e balançam os ombros contra toda essa "chatice de política".
São Paulo tem muito pobre que come carne de pescoço, ensopado de chupa molho e arrota caviar. Este tipo acredita que enriquecerá “junto” com o patrão da "firma". Por isso rouba na balança, no taxímetro, nos ingressos dos estádios do Morumbi e Pacaembu, contra o freguês. É o tal “negro de alma branca”, que prefere catar as migalhas que caem do bolso do feitor ao invés de almejar a igualdade de direitos e oportunidades para seus semelhantes sociais ou raciais.
A classe média paulistana- os descendentes de italianos principalmente- essa mesma classe média que é cantada mais em versos do que em prosa nos manuais de sociologia, acha que a educação para pobre é perda de tempo. Por isso bota seus filhos pra trabalhar o mais cedo possível, traçando-lhes o mesmo destino do pai, do avô ou do bisavô de alguma aldeia remota do sul da Itália, descendentes que hoje povoam o ruidoso bairro da Mooca.
Acreditam em Deus e também na "mamma" ou na "nonna". Por isso, vão à missa aos domingos para depois se empanturrarem de macarronada e pizza.
A maioria dos paulistanos reconhece que viver em São Paulo é cada vez mais insuportável. Não por culpa dos seguidos governos elitistas do PSDB, é claro. Mas pelo crescimento desordenado da cidade provocado pela “invasão de alienígenas nordestinos" e outras impurezas étnicas – inclusos aí, filhos, netos e toda a parentada” Mas o paulistano, especificamente aquele parvo sintomático e antipático, desconhece o que significa a palavra "Cosmopolita".
Por conseguinte, é comum o cidadão se achar no direito de furar qualquer fila, desde a dos congestionamentos até a dos supermercados. Se viaja enlatado no transporte coletivo, principalmente no metrô "pra zona leste", a culpa do seu desconforto é do passageiro ao lado, que invadiu “sua” cidade. Em sua arrogância delirante, torce secretamente para que surja alguma epidemia que dizime ¾ da população: basicamente os negros e os nordestinos. Ah, sim, quase me esqueço: inclua-se aí os mendigos, os gays e os travestis.
Muitos caem na conversa de uma profissional de telemarketing, aquela "mina" com sotaque anasalado, de língua presa, dando tremeliques no erre, ou seja, na nossa letra rê, e acabam assinando um desses jornalões ou revistas decadentes que ainda circulam por aqui, por aí e alhures.
Arcadas da Faculdade de Direito de São Paulo |
Mas logo no segundo mês após a assinatura da Folha, do Estadão e da revista Veja perdem o interesse na leitura, tirando as manchetes de capa, a página que fala do seu time "curíntia" ou "parrmeira", além de quadrinhos e horóscopo (que consomem numa única sessão no “trono sanitário”) o impresso nem se desmancha.
E mesmo constatando que não tiram proveito algum, mantém sua assinatura. Assim, mantém também a ilusão de serem cidadãos bem informados. E o ciclo ilusório se completa nas estatísticas das quais faz parte e que o jornalão empurra aos seus anunciantes.
O paulista e o paulistano foram convencidos por idiotas das rádios, jornais e TVs igualmente paulistas e paulistanos, que é um otário a pagar mais impostos hoje do que em outras épocas, antes de Paulo Maluf. Não lhes passam pela geléia do cérebro que o número garrafal exibido no impostômetro da rua Boa Vista é fruto da política de aquecimento do consumo interno que protege nossa economia do vírus neoliberal – o mesmo que arrasa metade do planeta. Fizeram-lhes acreditar também que São Paulo é a tal “locomotiva” que carrega o Brasil nas costas.
Para eles, desde o Brasil Império já havia oportunidades para todos de norte a sul do país – seja nas escolas, seja no mercado de trabalho. Por isso odeiam os programas sociais do Governo Federal que “sustentam vagabundos que passam o dia bebendo pinga, chopis e jogando sinuca" enquanto eles dão um duro danado.
É o fiel parceiro que acomoda, no banco do carro, o traseiro daquela mulher-objeto que está sempre disposta a se deixar seduzir quando "os meu" confundem seu joelho com o câmbio e acelera em direção a um motel qualquer enfrentando o engarrafamento, no embalo da música sertaneja-caipira de tendência exclusivamente brega, que , aliás, eu mesmo adorei a música romântica caipira quando fui ciceroneado por uma jovem e inteligentíssima advogada, paulista de São José do Rio Preto.
A brasília amarela, dos finados mamonas assassinas, popularizada pelo cantor Dinho, baiano do nosso município vizinho de Irecê, cedeu espaço aos celtas e jeeps cherokee, onde permanecem horas e horas, talvez até um dia inteiro, nos feriadões, seguindo, tais quais uns extraterrestres do pior lugar do sistema solar, para as praias do litoral do Estado. Haja saco e pedágio!
Julgo que este texto não me servirá de base, nem a ninguém, para um debate de ciência política e direito constitucional que logo mais participarei na centenária Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.
Mas digo pra vocês, manos e minas, que tudo isso que vem à baila acontece, tão somente, porque sou baiano e, por cima, de Xiquexique.
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