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Negócio da China no Baixio de Xiquexique

1/07/2014


Hoje, ao amanhecer, deparei-me com um bando de pardais que raramente pousa e saltita aqui  no parque nas imediações da minha casa.

Assim é que me lembrei de haver lido num desses antigos almanaques  que os pardais já foram alvo de grande campanha antrópica, sendo tenazmente combatidos durante a Revolução Cultural Chinesa, porquanto, segundo a ideologia de então, cada um pardal consumia mais de 4 quilos de grãos por ano nas plantações e se os comunistas chineses  fuzilassem  um  milhão desses passarinhos capitalistas, impopulares, mesmo  que não enviassem  a conta da despesa da bala para a família dessas aves, haveria produção  de comida para 60 mil pessoas por dia, o que representaria pouca gente, em se tratando da República Popular da  China de aproximadamente 1 bilhão e 400 milhões de habitantes.

Armados de patrióticos e prosaicos estilingues ou baladeiras, os chineses foram à luta contra os pardais, destruindo ninhos, quebrando ovos, matando os filhotes.  Na Província de Shandong, a grande produtora de um tecido de seda chamado xantung, massacraram mais de dois milhões de pardais.

Esqueceram-se, contudo, dos gafanhotos. Sequer lembraram-se de um pormenor crucial  a informar que uma das iguarias preferidas dos pardais, além de grãos, são exatamente os gafanhotos.

Ora pois. Com a mortandade desenfreada dos pardais, seus predadores, os gafanhotos, revisionistas, multiplicaram-se e de um só golpe capitalista destruíram a produção de arroz, matando de fome cerca de 30 milhões de chineses.

Mao Tsé-Tung, o grande líder do partido comunista, considerou os gafanhotos a arma secreta das forças reacionárias capitalistas, acionada pelos Estados Unidos da América. Isso no final dos anos 50 e início dos anos 60 do século XX.

Atualmente, a nação mais antiga do mundo já não se importa com os pardais nem  com gafanhotos.  Vale-se da sabedoria de Confúcio, de Lao-Tsé , do Tai Chi Chuan e do Budismo para fazer os seus negócios incluindo, também,  os  minérios da empresa brasileira Vale do Rio Doce. O avanço na economia de mercado faz da China a segunda maior economia do mundo, apenas superada pelos concorrentes e rivais Estados Unidos da América do Norte.

É nesse viés de alta de negócios da China que estou pretendendo adquirir  alguns hectares de terra nas cercanias do Baixio de Xiquexique.

Informaram-me, em off, que o cultivo  de cruilí, araticum cagão, muçambê e melão de são caetano, quando  transformados em matéria prima, ou commodities, serão amplamente negociados nos mercados à vista e futuro dos países orientais.

No povoado da Boa Vista, no Baixio,  ainda não vi nenhum pardal, vi de longe , voando sobre os canais de concreto do Projeto de Irrigação, somente casacas de couro, cabeças vermelhas e juritis, além de um ou outro canário, passarinhos que não caçam gafanhotos.

Sabemos, de própria experiência, que gafanhotos não faltam em Xiquexique. Eles, sem aviso prévio, já infestaram a cidade em algum tempo não muito distante e se não os enfrentarmos, frequentemente, com a sinfonia dos combativos pardais, eles voltarão da forma seletiva e evolutiva,  multiplicando-se  com mais força..

Nilson Machado de Azevedo


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