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A ditadura militar quis atravancar o caminho do passarinho

3/30/2014


A frase mais famosa do poeta gaúcho Mário Quintana talvez seja a seguinte: "Eles passarão, eu passarinho", que se refere ao golpe militar de uma lado, e, do outro, à sua atitude perante esses acontecimentos. O poeta se manteve fiel a sua frase, pois suas duas publicações mais importantes durante o regime militar, o Caderno H, e os Apontamentos de História sobrenatural,se limitam a considerações estéticas e outros temas insuspeitos

Mário Quintana, o genial poeta e escritor gaúcho, escreveu o “Poeminha do Contra” em 1978. Seus versos dizem:

Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão…
Eu passarinho!

Esses versos de Mário Quintana popularizou-se no Brasil, mas há impressão de que  muita gente não o interpreta, ou não querem, como um protesto do poeta gaúcho contra a ditadura militar.

Assim é que  se registra na história política das artes e manhas  que Mário Quintana tentou se tornar imortal da Academia Brasileira de Letras-ABL, por três vezes e  perdeu todas:  perdeu  para Eduardo Portella, ministro da educação do General Figueiredo, em um arranjo político, até hoje, não muito bem explicado, depois perdeu  para Arnaldo Niskier, que posteriormente seria presidente da ABL e , finalmente, para Carlos Castelo Branco , o Castelinho, este um grande jornalista, mas sem histórico de escritor. O poeta desistiu definitivamente de tentar a cadeira na ABL, mesmo com a garantia de unanimidade dos votos dos colegas.

O poeta gaúcho expôs sua visão da academia com a seguinte declaração:

só atrapalha a criatividade. O camarada lá vive sob pressões para dar voto, discurso para celebridades. É pena que a casa fundada por Machado de Assis esteja hoje tão politizada. Só dá ministro.”, disse, se referindo à forte politização nas indicações de escritores para a academia. Ainda em relação à ABL, ele declarou: “ A academia não convida. A gente é que tem de candidatar-se, solicitar votos pessoalmente, arranjar pistolões. Há gente que não dá para isso. Eu também não,” dando uma pista dos motivos da sua não indicação.

Assinale-se que a Ditadura militar comandada por  generais, coronéis e todos milicos fardados ou não,  obtusos intelectualmente, jamais perdoou os  intelectuais e poetas , a exemplo de  Mário Quintana, como aliás era de se esperar dos generais et caterva.

Somente para ainda relembrar:  os golpistas atravancaram toda a arte brasileira, desde o trabalho poético de  compositores de qualidade, como Chico Buarque, Gilberto Gil e Caetano Veloso (apenas para citar estes três), além de escritores,  poetas, jornalistas e toda plêiade de artistas brasileiros que se submeteram aos psicopatas da censura ditatorial.

Ficará , pois, gravado na memória de todos os brasileiros estudiosos (ou não) os versos de Mário Quintana:

Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão…
Eu passarinho!


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