Como é sabido, a ditadura militar no Brasil foi pautada pelo autoritarismo e pela repressão. Mas a repressão não foi somente de ordem política, esta, caminhou lado a lado com a repressão moral. Na luta pela defesa da moral e dos bons costumes, a ditadura censurou e proibiu expressões que exaltassem, direta ou indiretamente, o erotismo, as inversões sexuais, o alcoolismo e tudo que fosse contrário ao projeto masculinizante e moralizante do regime.
O governo ditatorial demonstrava grande preocupação com a organização familiar. Esta era entendida como a base de uma grande nação, e as campanhas publicitárias oficiais enfatizavam a importância da família como sustentadora de uma sociedade saudável, pautada no controle e na disciplina.
Canção erótica que “inaugurou” a proibição de reprodução e execução desse tipo de música no país, foi Je t’Aime... Moi non Plus, do compositor francês Serge Gainsbourg. Lançada no Brasil em agosto 1969, pela gravadora Philips, alcançou sucesso imediato. Mais do que depressa, os agentes da repressão determinaram sua proibição em todo país.
Além do veto a sua execução pública e radiodifusão, os exemplares à venda nas lojas foram recolhidos. Até aquele momento não havia censura prévia para canções estrangeiras, mas a partir da referida canção, o governo decretou que a censura prévia valeria para canções em qualquer idioma.
Diversos artistas populares foram alvos da censura. A censura do regime militar defendendo “a moral e os bons costumes” ficava inquieta diante das canções que afrontavam seu ideal moralizante. Diversos episódios, envolvendo muitos cantores e cantoras do período, expressam como a censura não “dava folga”.
Como relata Odair José: “o que rolava antigamente na música popular brasileira era o namoro no portão, sob a luz do luar, e eu vim falando de cama, de pílula, de puta, de empregada doméstica, porque essa é a realidade do Brasil. Eu sou um cantor de realidade, não de sonhos”.
Em 1973 foi vetada a música de Odair José "Em qualquer lugar", sob justificativa de que a mesma seria um atentado ao pudor, exaltando livremente o amor livre. A canção foi censurada e Odair só conseguiu gravar em 1985, com o título "Quando a gente ama".
Outro tema ainda tabu na sociedade brasileira, na década de 60 e inicio dos anos 70, foi a pílula anticoncepcional. Nesse momento a pílula começava a se popularizar, jornais e revistas falavam das vantagens desse moderno método anticonceptivo.
A ditadura militar patrocinava a BEMFAM - Sociedade Civil Bem-Estar Familiar no Brasil, primeira e mais conhecida instituição de planejamento familiar no País. A entidade desenvolvia campanhas, com financiamento do governo norte-americano, ( IPPF — International Planning Parenthood Federation), para o controle da natalidade entre as mulheres de famílias de baixa renda no Brasil, distribuindo anticoncepcionais.
A BEMFAM tinha postos instalados em diversas cidades no Brasil e cartazes com a mensagem: “Tome a pílula com muito amor”. Justamente nesse momento, 1973, Odair José entra novamente em cena com a canção "Uma vida só ou Pare de tomar a pílula".
O governo ditatorial decretou a proibição do disco de Odair José em todo território nacional, bem como sua execução pública. Mesmo repreendido e censurado, Odair ainda driblava os bestializados censores cantando “a pílula”, vez ou outra, pelo interior do Brasil até 1979, ano de sua liberação pelos militares golpistas. Eles consideravam a música popular brasileira um inimigo a ser combatido.
FONTE: Paulo Cesar de Araújo. "Eu não sou cachorro, não: música popular cafona e ditadura militar". Rio de Janeiro: Editora Record, 2005.
4 comentários:
Nilson Machado, falando em pílula lembramos de remédio e ao pensar em remédio nos remete a quem precisa tomar urgente uma dose cardenal, pois enloqueceu.
29/5/14 12:21Tem um rapaz aqui em Xique-Xique que que está indo pras cordas se não cuidarem dele.
Não poupou juízes, promotores, autoridades eclesiásticas, vereadores, vice prefeito e tão pouco a sociedade, pois baixou o nível e desceu o madeira em todo mundo.
Este rapaz é da sua área e como sabemos do seu conhecimento jurídico de até onde vai o direito e a liberdade de expressão, seria bom escrever algo sobre o assunto no A VOZ.
Este rapaz precisa de retratar e ter mais respeito aos poderes constituído neste país, como também a sociedade.
O A VOZ sempre foi bom, mas você o deixa maravilhoso.
Môço, pra esse cara tomar cardenal não resolve. Temos que fazer é uma promessa pra Bom Jesus da LAPA.
30/5/14 08:03Ele tem é que meter o pau nestes malandras, principalmente esses padres puxa saco, que o ex-gestor fez tudo que pedia. Até a igreja quase caiu em suas cabaças, e foi recuperada com ajuda do ex.
30/5/14 16:09Você quis dizer com o dinheiro público, mesmo assim queria que a Igreja ficasse subserviente a ele como são seus subalternos puxa sacos e curriolas.
31/5/14 14:36Postar um comentário
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