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Sudestinos, Sulinos, Nordestinos e as breguices de todo dia

8/29/2015

buchada paulista


 
Porque muitos brasileiros passaram a chamar a letra É de Ê?

Alguns palpites sobre a breguice.  

O que é ser brega? Uma das características mais marcantes do brega é querer agir como se ele fosse outro. Outro que ele talvez admire sinceramente ou que é induzido a admirar (pela mídia, pelo grupo no qual está inserido naquele momento da sua vida, etc.)

Leia  toda essa matéria e comente.
 
Não é por acaso que um dos exemplos mais típicos de breguice, um dos que mais chama a atenção e provoca o riso, é a modificação do jeito de falar. Um brasileiro que passa algum tempo morando no exterior e volta falando diferente, com sotaque.

A pessoa que está estudando uma língua estrangeira e passa a utilizar palavras e expressões dessa língua na sua conversa diária, trivial, com os interlocutores. A pessoa que passa a falar “difícil” propositadamente perante o seu grupo.
 
Quando o brega age como brega ele quer impressionar os outros, seduzir (e assim assumir um certo status de superioridade sobre os outros). Ele acha que é chique imitando alguém que ele acha que é chique ou que foi induzido a achar. E quer que os outros o achem chique quando faz essa imitação. É... A breguice é um modo de sedução. Que funciona entre outros bregas, mas é letal num meio mais cultivado, onde só provocará o deboche.

Isso estou dizendo eu, um simples leigo no assunto. Os estudiosos do brega podem talvez dizer mais sobre a breguice.
 
Parece que já li em algum lugar, não sei onde, que uma diferença entre ser caipira e ser brega é que o primeiro é autêntico e o segundo não. Quem sabe não se pode acrescentar que o caipira não tem pretensão de ser considerado chique e o brega sim. E com essa “chiqueza” quer ter alguma preponderância sobre os outros. Quer ser mais considerado, em suma, quer ter poder.
 
De uns tempos para cá, mais precisamente desde fins da década de noventa, ou pelo menos foi a partir daí que passei a notar com mais atenção o fenômeno, a “elite” brasileira, puxada pela Rede Globo, passou a achar extremamente chique pronunciar a letra “é” com o som fechado “ê”. Imitando os brasileiros sulistas de origem italiana, alemã e espanhola.
 
Quase todo brasileiro aprendeu a pronunciar as vogais do velho ABC assim: A, É, I, Ó, U. 
Hoje em dia, especialmente na Rede Globo e nas vozes da propaganda, e especialmente em São Paulo, se você não chamar o “é” de “ê” e até mesmo o “ó” de “ô” faz feio, não é chique.
E, não contentes com a mudança da letra isolada, para serem coerentes, mudaram também a pronúncia do “é” nas palavras.

Essas pessoas não querem mais dizer “éducação”  e  sim “êducação”. República, com “é” bem aberto que vem das palavras latinas res publica, com o “e” de res bem aberto, só deve ser pronunciada “rêpública”, para ser chique. Mesmo que para isso o fôlego necessário para fazer a aspiração fechada seja maior, deixando a conversação mais cansativa. O importante é ser “chique”.
 
As sucessivas reformas ortográficas da língua portuguesa vêm facilitando essas “chiquezas”. Houve tempo em que “e” aberto tinha quase sempre o acento agudo “ ´ ” para diferenciar do “e” fechado que tinha o acento circunflexo “ ^ “. 

Mas as reformas ortográficas foram abolindo esse chamado acento diferencial. A reforma de 1971 (Lei 5765/71 do General Médici) é a principal responsável pela extinção do acento.

Recentemente tivemos nova reforma que reduziu mais ainda o uso de acentos diferenciais. O objetivo alegado sempre foi o de simplificar a escrita, nunca o de mudar a pronúncia das palavras.
 
Entretanto o que vemos hoje é uma avalanche de ê-falantes no português do Brasil. Tem-se a impressão de que cada repórter e cada locutor de propagandas na TV e no rádio vão diariamente para a frente do espelho treinar falar “ês” fechados para não cometerem gafes. E que temos fonoaudiólogas da Globo em todos os estúdios treinando os repórteres a falar “chique” com “ê” fechado.
 
Assim a regra é ouvirmos:
 
Êlêtrônicos (embora ainda não ousem chamar elétrons de êlêtrons).
Êspêcial (embora não possam chamar espécie de êspêcie).
Êlêtricidade, êlêtricista, êlêtrizante, (embora não ousem pronunciar êlêtrico em vez de elétrico).
Cêlular (embora ainda pronunciem normalmente célula).
Nôrmal (embora ainda pronunciem norma com “ó” aberto).
Sêxual (embora não tentem mudar a pronúncia de sexo, de “é” para “ê” por ficar ridículo).
 
Acabo de ouvir um repórter da CBN tascar um “aprêssar”, chiquérrimo, pena que não se pode falar prêssa, por ficar estranho. Outra, na TV Globo, acaba de soltar um “mistêrioso”, que aparentemente se origina de “mistério”. Antigamente, na época do Cid Moreira e Sérgio Chapelin, o Jornal Nacional era anunciado assim: jórnal nacional. Agora os locutores dizem: jôrnal nacional, jôrnal hoje, enfatizando bem o “ô”. Gente fina fala assim.
 
Na Copa das Confederações de 2013 um jovem repórter fez uma matéria em um sítio de quilombolas para o Esporte Espetacular. Ele perguntava aos negros: você já ouviu falar de Pêlé? Fiz uma retrospectiva mental tentando lembrar se em algum lugar do Brasil ou do exterior, nas TVs e nos rádios eu já ouvira alguém pronunciar o famosíssimo nome de Pelé com o primeiro “é” fechado. Nunca. Sempre o que se escuta é Pélé.

Deve ser a força do hábito de transformar tudo em “ês” mais chiques, para diferenciar desses falantes de Minas Gerais para cima, especialmente dos feios nordestinos, que em tudo são feios e pobres, até no falar –não importa se os nordestinos são mais fiéis ao português de Portugal ou ao ancestral latino.
 
Na língua portuguesa –na verdade em todas as línguas românicas- há o fenômeno histórico chamado metafonia. Na formação de plurais (ôlho > ólhos; côrpo > córpos; ôvo > óvos; pôrto > pórtos, etc.). Em conjugações verbais (dêver: eu dêvo, tu déves, ele déve, nós dévemos, vós dêveis, eles dévem), etc.  Em alemão há o fenômeno do Umlaut que é similar ao da metafonia. Alguns plurais se formam acrescentando um ä  que corresponde ao som da letra “é”, aberta.
 
No Brasil parece que fazemos uso mais equilibrado dos dois sons. Sempre tivemos bolsões de ê-falantes, especialmente no estado de São Paulo e nos estados do Sul, em regiões de forte imigração italiana, alemã e de língua espanhola (fronteiras com países falantes do espanhol). Mas eles eram minoria e bem delimitados.
 
O problema parece ter começado com as fonoaudiólogas da Globo.  O problema parece ter realmente se avultado quando a “elite” brasileira se descobriu como melhor que o resto da população, mais rica, mais bonita, mais européia.

Essa elite despreza raízes portuguesas, aqueles baixinhos, atrasadinhos da Europa. Despreza os nordestinos com suas cabeças chatas e sua pobreza. Despreza todos esses é-falantes.
 
Na eleição de 2010 uma propaganda de Serra colocava uma voz nordestina falando, totalmente estereotipada, com todos os sons abertos, os “t” e os “d” sempre linguodentais, e essa voz ao falar PT dizia Pé-Tê. Ninguém no Brasil fala PT assim. Desconheço quem pronuncie no Brasil a letra “p” como “pé”.  Mas achei isso uma prova sensacional da politização fascista dessa questão linguística.
 
Parece que os bregas do Sul/Sudeste do Brasil estão conseguindo fazer uma metafonia ao contrário: agora tudo que é aberto vai se tornar fechado.

Zé Gomes     
GGN

1 comentários:

Mano das Mina disse...

Pulando na bala aew irmao e so se se humildade disciplina te lealdade diginidad transparencia respeito paz justiça liberdade pode cola em quaquer quebrada que cantar de galo nao toca nois é certo pelo certo canta de galo adivogado aki os cara tm liberdade pow vecha encosta de banda olha o ar do blog cade a disciplina

29/8/15 09:23

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