Numa tentativa óbvia de lavagem cerebral dos brasileiros, a maioria dos
meios de comunicação tem aproveitado a conjuntura de escândalos sucessivos que
ela mesma produz em torno da Operação Lava Jato para tentar esconder e diminuir
a memória de Luiz Inácio Lula da Silva, o mais popular dos presidentes
brasileiros.
Mas a memória de Lula persiste — inclusive fora do país. Segundo a
agência italiana de notícias, ANSA, o pavilhão brasileiro na Exposição
Universal de Milão, inaugurada em 1 de maio, já foi visto por 450 000 pessoas
desde a abertura. Prevê-se um aumento da visitação por esses dias, quando Lula
estará na Itália, para uma série de encontros, palestras e conferências.
Situado na entrada da Exposição, com 4 000 metros quadrados de área, o
pavilhão do Brasil tem como tema uma síntese das melhorias sociais ocorridas no
país a partir de 2003, quando Lula tomou posse no Planalto, e que até hoje
intrigam estudiosos e surpreendem cidadãos de vários países: “Alimentando o
Mundo com soluções.” Um dos principais eventos internacionais do planeta desde
o século XIX, a Exposição Universal é uma promoção que se prolonga por cinco
meses, mobiliza um publico realmente gigantesco — em sua última edição, recebeu
nada menos que 73 milhões de visitantes — e suas atrações costumam se modificar
de acordo com as necessidades de cada momento.
Durante um bom período, o foco
se encontrava em invenções e novidades tecnológicas. Em 1853, em Nova York,
período em que a escravidão era um regime de trabalho inclusive nos Estados
Unidos, a Exposição serviu para mostrar elevadores. Em 1855, em Paris, a
atração foi a máquinas de costura. Foi na Filadélfia, em 1876, que o imperador
Pedro II falou pela primeira ao telefone, reagindo com espanto: “Isto fala!”
Em 2015, quando a recessão é um pesadelo em boa parte do planeta, o
desemprego domina o Velho Mundo, e barcos de imigrantes da África cruzam o
Mediterrâneo em busca de abrigo, emprego e futuro, o assunto é outro — e isso
explica o lugar de Lula na exposição de Milão, para onde ele embarcou na
quarta-feira (4). Gostem ou não seus adversários, ele é um dos principais
responsáveis pela inclusão da fome na agenda mundial.
Dias antes da chegada a Itália, Lula publicou nas páginas do Corriere
della Sera, o mais importante jornal italiano, um artigo (“Um mundo sem fome e
com paz”) escrito em parceria com o assessor e amigo, José Graziano, hoje
diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e
Agricultura, FAO. “Um mundo sem fome não é um sonho abstrato,” escreveram os
dois. “A pobreza e a miséria, dentro dos nossos países ou em outros países, não
é um fato inevitável da vida. Podemos, sim, construir um mundo sem fome. E só
um mundo sem fome pode nos permitir construir um mundo sem guerras, um mundo de
paz.”
A agenda de Lula em Milão prevê, no mesmo local da exposição, a
Conferência Magna da Sessão de Encerramento do Fórum de Ministros de
Agricultura, convite que por si só é uma prova de prestígio, mas não é só. No
sábado ele faz a Conferência McDougall, na abertura da 39ª Conferência da
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). A
Conferência McDougall foi instituída em 1958, em homenagem a Frank L.
McDougall, um dos fundadores da organização. (Em 2013, a palestra foi
ministrada pelo Prêmio Nobel Amartya Sen). No domingo, Lula participa de um
debate promovido pela Prefeitura de Roma.

Realizado numa conjuntura difícil para o governo Dilma e para o Partido
dos Trabalhadores, onde até seus índices de aprovação diminuíram, o circuito
italiano de Lula ensina que ele foi capaz de deixar uma herança mais duradoura
do que seus dois mandatos.
Também recorda que sua gestão teve um impacto que foi muito além das
fronteiras brasileiras e mesmo da América do Sul. Num país que ao longo da
história se habituou a importar diversas modas ideológicas, em particular
aquelas que nenhum benefício trouxeram a maioria da população, como o Consenso
de Washington, o neoconservadorismo e o Estado mínimo, foi um presidente capaz de
assumir outra atitude e colheu outro resultado.
Mostrou aos brasileiros que era preciso encarar e modificar a dura
realidade do país em que viviam — e assim ajudou a compreender que também era
possível lutar por uma vida melhor em outros lugares.
Numa cultura onde a afirmação nacional é vista, frequentemente, como uma
necessidade, o lugar de Lula tornou-se, em muitos lugares do país, um motivo de
identificação e orgulho.
Pensando
bem, não é difícil entender porque, quatro anos e seis meses depois de sua saída
do Planalto, ele tenha se tornado motivo de massacre e lavagem cerebral. Alguma
dúvida?
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