Há 61 anos, na manhã de 24 de agosto
de 1954, o presidente Getúlio Vargas deu um tiro no peito, pondo fim à vida e a
um dos períodos mais conturbados da história política do país. Ele havia se recolhido ao seu quarto no Palácio
do Catete, no Rio de Janeiro, após uma tensa reunião com a equipe ministerial
que varou a noite e não conseguiu garantir a sustentação de que precisava para
resistir às pressões que pediam sua renúncia. A principal acusação era de que
homens de confiança do caudilho estavam envolvidos no atentado contra o
jornalista de oposição Carlos Lacerda, que resultou na morte do major Rubens
Vaz, oficial da Aeronáutica que escoltava Lacerda.
O suicídio em 1954 foi a maneira que
o presidente encontrou para cumprir a promessa de que só sairia do palácio
morto – jamais entregaria o cargo aos que considerava “aves de rapina” que
queriam continuar “sugando o povo brasileiro”.
Contudo, aquele gesto extremado foi
mais que um ato de desespero diante do cerco que se fechava: era a saída que
combinava com o perfil populista de Getúlio, que voltara nos braços do povo
como senador e, em 1950, da mesma forma, como presidente da República. O
desfecho trágico, como ele previra, jogou a população contra os opositores que
queriam tirá-lo à força do poder, postergando um golpe que se concretizaria dez
anos depois.
Mentor de avanços trabalhistas (CLT,
férias, FGTS) e de investimentos importantes, entre eles a construção da
refinaria de Volta Redonda (RJ), e ao mesmo tempo ditador que não hesitava em
calar a oposição à força e deportar
figuras como a militante comunista Olga Benário, morta num campo de
concentração na Alemanha nazista, Getúlio Dornelles Vargas é uma figura controversa,
idolatrada por muitos e detratada por outros tantos. Após seis décadas, seus
rastros ainda podem ser encontrados em algumas práticas políticas em partidos
que tentam seguir seu ideário e em direitos que outras nações só
conquistaram com sangue e a perda de
vidas.
A morte de Getúlio comoveu o país, e
uma multidão acompanhou o cortejo na orla do Rio de Janeiro em direção ao Aeroporto
Santos Dumont, de onde o corpo foi transladado para São Borja (RS), terra natal
do presidente. Aos 72 anos, seu enterro teve discursos de Tancredo Neves,
ministro da Justiça, de Osvaldo Aranha e de João Goulart, jovem com futuro
promissor que mais tarde, na condição de presidente da república, foi deposto pelos militares do golpe político
de 1964.
O PDT (Partido Democrático
Trabalhista) seria hoje o herdeiro do varguismo e do discurso nacionalista, por
estar um pouco mais à esquerda no quadro partidário brasileiro. De Getúlio,
ficou a ideia da modernização econômica, com a criação da Petrobras, por
exemplo, ao mesmo tempo em que ocorria o flerte com as oligarquias, os
operários e o sindicalismo, então atrelados ao Estado.
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