"O homem chega, já desfaz a natureza
Tira gente, põe represa, diz que tudo vai mudar
O São Francisco lá pra cima da Bahia
Diz que dia menos dia vai subir bem devagar
E passo a passo vai cumprindo a profecia do beato que dizia que o Sertão ia alagar
O sertão vai virar mar, dá no coração
O medo que algum dia o mar também vire sertão
Adeus Remanso, Casa Nova, Sento-Sé
Adeus Pilão Arcado vem o rio te engolir
Debaixo d'água lá se vai a vida inteira
Por cima da cachoeira o gaiola vai, vai subir
Vai ter barragem no salto do Sobradinho
E o povo vai-se embora com medo de se afogar.
O sertão vai virar mar, dá no coração
O medo que algum dia o mar também vire sertão"
letra da música Sobradinho, de Sá e Guarabyra
Sob a luz forte do sol quente do
semiárido, Sobradinho, o maior reservatório construído ao longo do Rio São
Francisco, exibe toda a sua grandiosidade. De um lado da parede da barragem, o
Velho Chico com suas curvas naturais. Do outro, a água retida pela obra do
homem se espalha para além do que a vista pode alcançar.
Foi na década de 1970 que o sertão da
Bahia virou mar. Casa Nova, Remanso, Pilão Arcado e Sento Sé foram engolidas
pelo São Francisco e deram lugar a 34 bilhões de metros cúbicos de água. A
barragem serve para regularizar a vazão do rio, ao mesmo tempo em que retém
água para a agricultura, o abastecimento das cidades próximas e a geração de
energia, por meio da Usina Hidrelétrica de Sobradinho.
Cerca de 12 mil famílias foram
transferidas para as novas sedes construídas pela Companhia Hidro Elétrica do
São Francisco (Chesf). Em termos de grandeza, Sobradinho é considerado o maior
reservatório do Nordeste, com 4.214 quilômetros quadrados de área inundada, e
detém 58,2% do armazenamento de água do São Francisco na região.
Para manter uma boa capacidade
hídrica, a barragem depende principalmente da chuva na nascente do Rio São
Francisco, localizada no Norte de Minas Gerais. Se não chove lá, não entra água
suficiente no reservatório. E a chuva irregular já dura, pelo menos, quatro
anos.
O período chuvoso na região vai de
setembro a abril, mas os meses de novembro, dezembro e janeiro costumam ser ainda mais
chuvosos.
A situação ficou mais grave no final de 2014 e no decorrer de 2015, quando houve um déficit muito grande de
precipitação. Não choveu nas nascentes do Velho Chico.
O resultado dessa sequência de pouca
chuva é o mais baixo nível de água que já se viu nos quase 40 anos de
Sobradinho. No dia 3 de dezembro de 2015 o volume do lago chegou a apenas 1,11% de sua capacidade
útil.
Contrariando o escritor Euclides da Cunha, não duvide que O mar virou sertão.
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