A produção nacional de alimentos é suficiente
para os mais de 204 milhões de brasileiros, mas a desigualdade de renda e o
desperdício ainda fazem com que 7,2 milhões de pessoas sejam afetadas pelo
problema da fome no país, revela estudo conduzido pelo professor Danilo Rolim
Dias de Aguiar, pesquisador do Departamento de Economia do Campus Sorocaba da
Universidade Federal de São Carlos.
“Temos uma concentração de renda muito grande.
Se, por um lado, temos pessoas passando fome, por outro, temos o problema da
obesidade, que é cada vez maior. Haveria, então, um problema ligado à renda e à
educação, que estaria dificultando o acesso aos alimentos. Aí também entra a
questão das perdas”, disse Aguiar.
Na pesquisa, Aguiar fez um levantamento sobre o
que é produzido no país, pegando os principais alimentos – arroz, feijão,
trigo, ovos, leite, milho, soja, banana, açúcar, mandioca e carnes de frango,
de porco e bovina – e os transformou em um indicador comum que permitisse uma
comparação mais adequada entre eles, calculando todos os itens em número de
calorias ou proteínas.
Segundo o pesquisador, a quantidade média
necessária para consumo individual por dia, e que foi considerada neste estudo,
é de 2 mil calorias e 51 gramas de proteína.
“Peguei tudo aquilo que ficou no Brasil para
consumo humano e transformei isso em calorias e proteínas.
O que verificamos
foi que, em termos de calorias e proteínas, temos mais que [o suficiente para]
as necessidades humanas aqui no Brasil. Se pegarmos calorias, que é uma
situação um pouco pior, chegamos, em 2013, com 118% das necessidades
individuais, uma folga de quase 20%. Em termos de proteína, teríamos uma folga
de mais de 60%, ou seja, estariam sobrando alimentos”, explicou Aguiar.
Em entrevista à Agência Brasil,
o pesquisador disse que muitas pessoas ainda passam fome no Brasil
principalmente pela dificuldade de acesso à alimentação. Apesar de o país
ocupar o quinto lugar no ranking mundial da obesidade, ainda há mais
de 7 milhões de pessoas passando fome e 30 milhões de subnutridos.
No estudo, Aguiar analisa também o volume de
produtos exportados pelo Brasil. Para o professor, o volume de alimentos
exportados poderia, por exemplo, alimentar duas vezes toda a população
brasileira. Quando se transforma o total que é vendido para o exterior em
calorias, percebe-se que a quantidade seria suficiente para alimentar quase 700
milhões de pessoas.
“Peguei todos os produtos que o Brasil exporta, como milho, soja, carne bovina e carne de frango, transformei em calorias e proteínas e dividi pelas necessidades de cada pessoa para saber quantas poderiam ser alimentadas no exterior com as exportações brasileiras.
“Peguei todos os produtos que o Brasil exporta, como milho, soja, carne bovina e carne de frango, transformei em calorias e proteínas e dividi pelas necessidades de cada pessoa para saber quantas poderiam ser alimentadas no exterior com as exportações brasileiras.
Em 2013, as proteínas que o país
exportou dariam para nutrir 700 milhões de pessoas. Em termos de calorias,
seriam 380 milhões de pessoas. Aquilo que estamos vendemos lá fora seria capaz
de alimentar duas vezes a população brasileira em termos de calorias e três
vezes em termo de proteínas”, detalhou Aguiar.
No entanto, isso não ocorre em realidade porque
muito do que é exportado pelo Brasil vira comida para animais, disse o
professor. “Isso não está alimentando tanta gente porque boa parte do que se
exporta – como milho e soja – não vai virar diretamente comida para pessoas,
mas comida para animais."
O pesquisador classifica de "cruel" essa
situação em que "as pessoas de baixa renda acabam concorrendo com os
animais, porque aquilo que poderia ser utilizado para alimentação humana vai
para a alimentação animal, pois as pessoas de maior renda querem cada vez mais
consumir carne. Como resultado disso, o preço dos produtos básicos sobe, porque
há pouco, e fica cada vez mais difícil o acesso por parte dos pobres”.
Políticas públicas
A produção nacional de alimentos é suficiente
para os mais de 204 milhões de brasileiros, mas a desigualdade de renda e o
desperdício ainda fazem com que 7,2 milhões de pessoas sejam afetadas pelo
problema da fome no país, revela estudo conduzido pelo professor Danilo Rolim
Dias de Aguiar, pesquisador do Departamento de Economia do Campus Sorocaba da
Universidade Federal de São Carlos.
“Temos uma concentração de renda muito grande.
Se, por um lado, temos pessoas passando fome, por outro, temos o problema da
obesidade, que é cada vez maior. Haveria, então, um problema ligado à
renda e à educação, que estaria dificultando o acesso aos alimentos. Aí também
entra a questão das perdas”, disse Aguiar.
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Segundo o pesquisador, a quantidade média
necessária para consumo individual por dia, e que foi considerada neste estudo,
é de 2 mil calorias e 51 gramas de proteína.
“Peguei tudo aquilo que ficou no Brasil para
consumo humano e transformei isso em calorias e proteínas.
O que verificamos
foi que, em termos de calorias e proteínas, temos mais que [o suficiente para]
as necessidades humanas aqui no Brasil. Se pegarmos calorias, que é uma
situação um pouco pior, chegamos, em 2013, com 118% das necessidades
individuais, uma folga de quase 20%. Em termos de proteína, teríamos uma folga
de mais de 60%, ou seja, estariam sobrando alimentos”, explicou Aguiar.
Para Aguiar, políticas públicas são necessárias
para diminuir o consumo de carne. Ele destacou que o crescimento do consumo da
carne é acompanhado pelo aumento da crise ambiental, já que, por exemplo, a
produção da carne bovina é responsável por 10% das emissões de gases de efeito
estufa na atmosfera e é o principal emissor do agronegócio.
De acordo com o pesquisador, outro problema
relacionado ao aumento do consumo de carne no país é que muito da produção de
milho e soja, por exemplo, acaba sendo destinado à allimentação dos animais.
“Por que os produtores brasileiros estão produzindo muito mais carne do que arroz e feijão? É porque isso, para eles, dá maior rentabilidade. Temos que ter políticas que incentivem a produção de alimentos que atinjam as classes de renda mais baixa e que sejam menos danosas ao meio ambiente.”
“Por que os produtores brasileiros estão produzindo muito mais carne do que arroz e feijão? É porque isso, para eles, dá maior rentabilidade. Temos que ter políticas que incentivem a produção de alimentos que atinjam as classes de renda mais baixa e que sejam menos danosas ao meio ambiente.”
Aguiar alertou, no entanto, que essas políticas
precisam ser articuladas mundialmente. "Temos que entrar com políticas,
mas articuladas em termos mundiais. Não dá para o Brasil tomar uma decisão
unilateral, de não querer produzir tanta carne, se o mundo inteiro quer comprar
carne.
Tem que haver uma articulação maior para que se atinjam esses objetivos.
E uma coisa que vai ajudar muito é a educação. Cerca de 99% das pessoas não têm
noção se aquilo que elas estão comendo tem algum impacto ambiental.”
Brasil de Fato
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