Mergulhado na maior recessão
dos últimos 25 anos e a braços com um controverso processo de destituição da
presidente Dilma Rousseff, o Brasil parece ter perdido o espírito olímpico. E
os últimos passos do afastamento de Dilma vão decorrer em simultâneo com a
realização dos Jogos, que se realizam de 5 a 21 de agosto. O presidente do
Senado, Renan Calheiros, já disse que o julgamento final em plenário deverá
ocorrer entre 26 e 29 do próximo mês.
Para 63% dos brasileiros, o
Rio 2016 vai trazer mais prejuízos do que benefícios, revela o estudo do
Datafolha, hoje publicado. Um sentimento negativo que não tinha mais do que 38%
de respostas em 2013.
Se metade dos brasileiros
está hoje contra a realização do evento, há três anos os adversários
ficavam-se em um quarto dos entrevistados e 64% era favorável. Segundo o
instituto de pesquisa, a aversão aos Jogos é maior entre os indivíduos com
maior grau de instrução e um rendimento mensal entre cinco e dez salários
mínimos.
A questão da segurança, que
ganhou ainda maior pertinência depois do atentado de Nice da semana passada, é
a que mais preocupa os entrevistados: 57% consideram que será motivo de
vergonha, enquanto apenas 32% consideram o contrário.
Situação a que não é alheia a
decisão de ontem, segunda-feira, do Supremo Tribunal Federal ao determinar a
transferência imediata de 2.900 milhões de reais para os cofres do Estado do Rio de Janeiro, para atender a questões de segurança.
Verba que se encontrava cativa por incumprimento estadual, devido à situação de
calamidade das contas públicas do Rio de Janeiro.
As últimas estimativas para o
valor total do investimento no Rio 2016 apontam para 39 mil milhões de reais, sobretudo de investimento privado (57%), ao
contrário do que aconteceu nos Campeonato do Mundo de Futebol em 2014. E a
maior parte dos estados ainda está a tentar pagar a fatura da Copa do Mundo.
A “oportunidade perdida”
Mega projetos imobiliários
como as Trump Towers Rio, iniciativa do milionário Donald Trump. candidato à presidência dos
EUA, não passaram ainda do papel. Muitos outros empreendimentos inseridos no
Porto Maravilha, projeto de revitalização do centro do Rio de Janeiro
impulsionado pelas Olimpíadas estão “congelados” e à espera de melhores dias.
Uma realidade muito diferente da de 2009, quando a realização das Olimpíadas
foi anunciada pelo presidente Lula, então no seu segundo mandato.
Numa entrevista recente ao
“Guardian”, o Prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, afirmou que o Rio 2016
foi uma “oportunidade perdida” e lamentou que o Brasil tenha chegado aos Jogos
num contexto que combina crise económica com crise política.
O Rio vive atualmente com o
caos na saúde e na segurança e mergulhado numa crise financeira sem precedentes
num passado próximo. Uma situação que levou o Governador do Rio, Francisco
Dornelles, a decretar há um mês o estado de calamidade pública no estado devido
à crise financeira. Redução de impostos e a quebra das receitas do petróleo
desde 2011 explicam parte do “buraco”. Além de um “incomportável” regime de
isenções fiscais que ultrapassam o valor dos impostos arrecadados.
E nem o fato do Brasil ter a
maior representação olímpica de sempre com 462 atletas parece mudar a
disposição dos brasileiros.
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