Na visita ao país vizinho no início
de julho, Serra esteve acompanhado do ex-presidente brasileiro Fernando
Henrique Cardoso para uma reunião com o presidente uruguaio Tabaré Vázquez
A oferta do senador licenciado José
Serra (PSDB-SP), atualmente no grupo do presidente de facto, Michel Temer, – com o
cargo de chanceler – ao governo democrático do Uruguai gerou um mal
estar ainda maior, na tarde desta terça-feira. Após divulgada a decisão do Itamaraty,
sob a gestão imposta aos brasileiros após o golpe de Estado que afastou a
presidenta Dilma Rousseff, de convocar o embaixador do Brasil no Uruguai,
Carlos Daniel Amorín-Tenconi, Serra causa o primeiro incidente diplomático do
novo período de exceção no Brasil. A chancelaria brasileira quer explicações
sobre a denúncia do equivalente uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, de que Serra
teria tentado “comprar o voto do Uruguai”, em uma clara tentativa de suborno ao
país vizinho, ao pedir que não transferisse a Presidência pró-tempore do Mercosul à Venezuela.
— Não gostamos muito de que Serra
tenha vindo visitar o Uruguai para nos dizer, e ele fez disso algo público, por
isso digo, que vinha com a pretensão de que se suspendesse a transferência (da
Presidência do Mercosul) e que, além disso, se nós a suspendêssemos, nos
levaria em negociações com outros países, tentando comprar o voto do Uruguai —
denunciou Novoa a tentativa aberta de suborno, durante encontro da Comissão de
Assuntos Internacionais de Deputados na última quarta-feira, cuja declaração
transcrita foi publicada pelo jornal local El País, que teve acesso ao
documento.
Na visita ao país vizinho no início de julho,
Serra esteve acompanhado do ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso
para uma reunião com o presidente uruguaio Tabaré Vázquez. Em entrevista à
imprensa, Serra afirmou que o Brasil faria uma “grande ofensiva” comercial na
África e no Irã e queria que apenas o Uruguai, entre todos os outros países do
Mercosul, participasse como “sócio”. Para tanto, o Uruguai deveria suspender a
transferência da Presidência rotativa do bloco, o que o país vizinho recusou-se
a fazer.
— O presidente o respondeu de maneira clara e
contundente: o Uruguai cumprirá com a normativa (do bloco) e vai convocar a
mudança da Presidência — informou Novoa.
A intervenção de Serra “incomodou muito” o
presidente Vázquez, acrescenta o chanceler:
— O Uruguai não iria permanecer na presidência de
jeito nenhum; atendendo a norma, em seis meses, deixaríamos o cargo.
O ministro disse ainda que, para Montevidéu, a
“Venezuela é o legítimo ocupante da presidência pró-tempore, portanto, quando
convocar uma reunião o governo uruguaio irá. Se os outros não forem, a
responsabilidade será deles”.
Para ele, Brasil, Paraguai e Argentina — que
não reconheceram a Venezuela à frente do bloco — querem “fazer bullying” contra
o país.
— Eu digo com todas as letras. Eles pulam o
jurídico, que contém o corpo normativo [do Mercosul], e, alegando razões que
não estão aqui, querem eludir, erodir, fazer bullying contra Presidência da
Venezuela. Esta é a pura verdade — afirmou.
No entanto, o ministro uruguaio ponderou que o
impasse pelo cargo do Mercosul “não poderá se repetir em dezembro, quando a
Venezuela tenha que passa-lo à Argentina”.
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