Rotulado pelo Ministério Público como "comandante máximo da propinocracia", o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda ocupa um outro espaço no imaginário do povo brasileiro. Lula é, para milhões e milhões de brasileiros, o presidente que mais atenção dedicou aos mais humildes, com programas como o Fome Zero, o Bolsa-Família, o ProUni e tantos outros. Não por acaso, deixou o Palácio do Planalto com 80% de popularidade, um índice inédito de aprovação popular.
Se
os pobres ficaram satisfeitos com o primeiro governo na história do Brasil
conduzido por um autêntico representante do povo, e não das oligarquias, o
mesmo se pode dizer dos mais ricos. Sob Lula, a economia brasileira viveu seu
período de maior prosperidade, dentro de uma democracia. O Brasil se tornou a
sétima economia global, acumulou mais de US$ 300 bilhões em reservas e atingiu
o chamado "grau de investimento" – o que permitiu que os grandes
empresários lançassem ações em bolsa e se tornassem bilionários.
Portanto,
foi um momento único em que todas as classes sociais progrediram. A tal ponto
que Jim O'Neill, criador da expressão BRICs (usada para designar o bloco
formado por Brasil, Rússia, Índia e China), definiu Lula como o mais importante
líder político do mundo nos últimos 50 anos. O cantor Bono Vox afirmou que Lula
era um patrimônio do mundo – e não apenas do povo brasileiro. E Barack Obama,
com uma indisfarçável inveja, o definiu como "o cara".
Paralelamente,
o prestígio de Lula irradiava para as empresas brasileiras e para o País como
um todo. Em menos de dois anos, sob seu governo, o Brasil conquistou o direito
de sediar os dois maiores eventos do esportivos do planeta: a Copa do Mundo e
as Olimpíadas. Revistas internacionais de grande prestígio, como a Foreign
Affairs, apontavam a emergência de uma nova potência global, cujas empresas
ocupavam espaços na África, na América Latina e mesmo nos mercados mais
desenvolvidos.
Bons
tempos, em que o Brasil, mais do que respeitado, era admirado por todos. No
entanto, de repente, tudo começou a desmoronar desde que foi colocado em marcha
o projeto de destruição do maior líder popular da história do País, sob os mais
variados pretextos. Para uns, Lula era "populista", quando, na
verdade, era apenas popular. Para outros, era "bolivariano", quando
tão-somente enxergava valor, para as próprias empresas brasileiras, nos
processos de integração sul-americana. Para outros, era antiamericano, quando
era nacionalista.
Aos
movimentos orquestrados pelas forças políticas derrotadas nas últimas quatro
eleições presidenciais, se somou um ingrediente destrutivo: o preconceito de
parte da elite brasileira, que, complexada, não se reconhece em seu próprio
povo. Um dos primeiros sintomas desse mal-estar foi a clássica coluna de Danuza
Leão, que afirmou que não tinha mais graça ir a Paris, porque era possível dar
de cara com o porteiro do seu prédio. A igualdade começava a incomodar.
Quando
o porteiro viajava, no entanto, as companhias aéreas vendiam mais bilhetes. Se
os porteiros financiavam carros, apartamentos e iam às compras, expandia-se o
mercado da própria elite empresarial brasileira. O pobre, como dizia Lula, não
era mais problema. Era a solução, desde que fosse incorporado ao mercado de
consumo. E assim mais de 30 milhões de brasileiros saíram da miséria.
Nos
últimos dois anos, desde que o Brasil foi paralisado por uma guerra
político-judicial que não se esgotou no impeachment da presidente Dilma
Rousseff, e que tem agora como segundo objetivo o impedimento preventivo de
Lula, só se viu destruição no Brasil. As empresas de engenharia, que disputavam
mercados globais, foram arruinadas. Distribuidoras de energia estão sendo
vendidas para grupos chineses, sob aplauso das autoridades. E os donos do maior
grupo exportador brasileiro, a JBS, tiveram que depositar R$ 1,5 bilhão em
juízo, simplesmente para terem o direito de entrar na própria empresa.
Tempos
estranhos, em que se alardeia a "volta da confiança" empresarial, num
país onde as vendas desabam, a arrecadação vai ao fundo do poço e nada menos
que 14 entes da federação anunciam estar prestes a decretar estado de
"calamidade pública".
Talvez
nunca se saiba se esse processo foi orquestrado de fora para dentro ou de dentro
para fora. Mas o Brasil poderá entrar para a história como o primeiro país do
mundo que aceitou passivamente a sua própria autodestruição, num processo
autofágico e irracional.
Se todos perdem, sejam eles ricos, pobres ou remediados, a
quem interessa essa situação? Aos grupos internacionais, que poderão comprar o
Brasil e suas reservas de petróleo (entre as dez maiores do mundo) a preço de
banana, certamente. Aos Estados Unidos, que se livram de uma
Aos grupos de comunicação que apoiaram o golpe? Em parte.
Basta notar que a Folha acaba de fechar sua sucursal do Rio de Janeiro,
encerrar sua cobertura de esportes e vender por R$ 20 milhões metade do Valor
Econômico para a Globo – um projeto onde foram investidos mais de R$ 300
milhões. E mesmo à Globo, por maior que seja seu domínio midiático no Brasil,
já não convém ser associada a dois golpes de estado em pouco mais de 50 anos e
reinar num país onde haverá cada vez menos anunciantes públicos e privados.
O fato é que, para destruir Lula, uma parte da elite
empresarial, política e burocrática do País decidiu destruir o próprio Brasil,
que talvez não resista como nação depois desse processo. Afinal, como se
resolve um impasse onde milhões foram levados a desejar a prisão de Lula e
outros tantos milhões querem reconduzi-lo à presidência da República?
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