"Uma verdadeira inquisição", publica o jornal francês Le
Monde, que entrevistou o sociólogo Mathias Alencastro; "Poucos dias após o
impeachment de Dilma, a acusação do promotor é um assassinato político contra
Lula e o PT", conclui o veículo; outras publicações internacionais, como o
Chicago Tribune, dos EUA, apontou fragilidade na denúncia do MP
As acusações infundadas da Força
Tarefa da Operação Lava Jato contra o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apresentadas em espalhafatosa
coletiva de imprensa nesta quarta-feira (14), ganharam destaque em alguns dos
principais jornais do mundo tanto pela gravidade das acusações quanto pela
ausência de provas que as sustentem.
A imprensa internacional aponta ainda
que a movimentação do Ministério Público poucos dias após o golpe contra
a presidenta eleita Dilma Rousseff tem consequências
políticas graves: impedir Lula de concorrer novamente à Presidência em 2018.
O norte-americano
New York Times registra que Lula é acusado de ser “general” de
um amplo esquema de corrupção, mas as acusações contra ele
são restritas a reformas em um apartamento que ele nega ser seu. “A quantidade
de dinheiro que Da Silva é acusado de ter recebido empalidece perante as
quantias que outros políticos são acusados de ter embolsado nos últimos anos”,
aponta o diário. O jornal diz ainda que Lula é favorito para as eleições de
2018.
O também norte-americano Chicago
Tribune também faz ressalvas em
relação ao contraste entre as graves e numerosas acusações verbais feitas
pelos promotores e a miudez das acusações formais: “O abismo entre
as acusações verbais e aquilo pelo que Silva foi denunciado de fato coloca
em dúvida o futuro dessa investigação”.
O jornal consultou Cezar Britto,
ex-presidente da OAB. Para o advogado, “o palavreado duro dos promotores pode
indicar que eles não têm evidências sólidas. Parece que os promotores
preferem conquistar apoio da sociedade ao invés de buscar por mais
evidências”.
“Uma verdadeira inquisição”, publica o francês
Le Monde, que entrevistou o sociólogo Mathias Alencastro. “Poucos
dias após o impeachment de Dilma, a acusação do promotor é um
assassinato político contra Lula e o PT”, conclui o jornal.
O jornal Página 12, da Argentina,
analisa a ação midiática do Ministério Público por meio de artigos de Eric
Nepomuceno e Emir Sader. “Para Dallagnol, um jovem servidor com atração
irresistível por declarações bombásticas, Lula era nada menos que o ‘comandante
máximo’ de um esquema de corrupção em seu governo. Palavras contundentes em um
discurso absolutamente politizado, ao qual faltou apenas um ‘detalhe’:
provas”, escreve
Nepomuceno.
“Ainda que sem nenhuma prova de
enriquecimento pessoal, sem nenhuma prova de que tenha obtido vantagens graças
ao cargo de presidente, mesmo tendo voltado a viver no mesmo apartamento na
periferia de São Paulo, mesmo com tudo isso, Lula tem de ser acusado,
processado, considerado culpado e condenado”, analisa Emir,
ressaltando o caráter político da operação contra Lula.
O jornal La Jornada, do México, destacou na
manchete principal de sua capa desta quinta-feira (15) a
incoerência da acusação contra Lula: “Sem provas, acusam Lula de encabeçar
esquema de corrupção”. “Tudo indica que buscam inabilitá-lo para as
eleições de 2018”, conclui.
O jornal italiano
La Reppublica ironiza a quantidade de acusações contra Lula: de
acordo com o diário, a depender das acusações do Ministério Público, “Lula é o
belzebu do Brasil”. O jornal, que registra que os promotores apenas prometeram
apresentar provas, aponta ainda as consequências políticas da ação contra Lula.
“Após o impeachment contra Dilma Rousseff e a chegada ao poder do líder do PMDB, Lula segue sendo o político mais popular do Brasil e tem repetidamente dito que pode ser o candidato de esquerda em 2018. Mas, se for condenado, não poderá fazê-lo”.
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