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COMEÇOU A TEMPORADA CHIQUE

1/11/2018


Como no Big Brother, existe uma maneira muito simples de a gente parecer mais interessante do que de fato é diante de uma multidão. Basta criar uma conta no Facebook e manifestar desprezo por qualquer coisa que seja popular. Como o Big Brother ou o próprio facebook.

Neste mês de janeiro, quando as inserções do Big Brother, do Grande Irmão da Globo passam a ser mais frequentes na tevê, o movimento de pudores eletrônicos ganha um tom de campanha política com Lula, sem Lula ou sempre com Lula.

Depois que inventaram as correntes de Facebook, a substituir o pré-histórico jogo da velha, ficou muito fácil manifestar nossos bons gostos e engajamentos pela internet.

 Basta compartilhar as fotos com as inscrições "Odeio BBB", "Fora Kim Jung-Un”,  "Meu sofá da sala não é sentina", "Morte ao Paredão" ou "Tirem o Nilson Azevedo daqui do pedaço".

 Pega muito bem.

Se houvesse um guia prático do internauta moderno (sim, porque existem os internautas da velha guarda, uns que se deixarem mandam até a íntegra da missa aos domingos), a ojeriza aos reality shows seria a regra número 1.

 Mas não só.

 Para parecer um cara muito legal na internet e na vida, é preciso também:


Bater em Anitta, Pablo Vittar, Ludimilla e  Michel Teló, (ou TeLLó?). Sem dó. Como se fossem   toda massa operária  do PT a dançar funk carioca pelos estados do Nordeste.


Ter sempre no  mural do quarto ou das alcovas algum auto-retrato pintado de Frida Khalo  e desenhos estilizados de Tarantino, de Almodóvar, de Che Guevara e daqueles quatro rapazes de Liverpool atravessando a faixa de pedestres em Abbey Road. Não é preciso esclarecer a conexão entre eles.


De vez em quando, diga como anda sua vida acadêmica com a extinção do FIES e comemore em letras garrafais quando chegar a formatura. Não se esqueça de dizer que A-M-A a profissão escolhida. No Facebook não existe gente frustrada no campo profissional.

Conte sempre coisas fofas vividas em ambiente familiar, ainda que te digam que o que se vive entre quatro paredes deva ficar entre quatro paredes.

Vai a Paris, Roma, Berlim, Nova York ou vai para Xique-Xique ? Avise todo mundo pedindo dicas desses lugares para os amigos. Chegando lá ou em Xique-Xique não espere a volta para postar impressões e fotos.


Não importa que o Parque Nacional do Xingu fique em Mato Grosso: seja sempre contra qualquer intervenção humana no Pará ou no Paraná. Se não colar, lembre-se também que no País da corrupção não temos salvação.


Coloque na sua página a lista de artistas brasileiros que devem constar das suas preferências musicais: João Gilberto (aquele do "vai, minha tristeeeeeza…"), Chico Buarque ("estava à toa na vida, o meu amor me chamou..."), Caetano Veloso ("a que será que se destina a cajuína cristalina em Teresina..."). Mantenha certa distância  de Raul Seixas (tiozão demais, coisa de hippie doido).


Compartilhe diariamente sua indignação com a política nacional. Lembre todos os dias que o governo não presta e que Brasília seria muito melhor se, no lugar do Congresso, funcionasse um estacionamento.

E não se esqueça de elogiar a revista Veja e de referir-se ao ex-presidente Lula como o ”Nordestino Apedeuta" que será vilipendiado,  escorraçado, condenado e preso no próximo dia 24 de janeiro.


Feito isso, você espantará qualquer fantasma da breguice e do lugar-comum que contamina este país que a gente gosta de chamar de atrasado, terceiro-mundista.

Mas o Brasil é muito chique, minha gente!

Ninguém vai dar a mínima, mas o importante é ficar bem com a gente mesmo. Ou viver cada minuto como se fosse o último. E dormir com a consciência tranquila. Ou qualquer outro clichê que sirva.






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