Minha avó costumava dizer: "Mentira tem pernas curtas." Esta sentença envolvia um certo sentido filosófico. Era como se o mentiroso fosse fácil de ser apanhado e, claro, ao sê-lo se cobriria de vergonha e de desonra.
Isso naqueles tempos.
Tempos em que os vocábulos honra, ética, dignidade, decoro, honestidade não eram vulgarizados em rotineiras notícias na imprensa escrita e falada.
Quem possuía aquelas virtudes as preservava, não precisava ficar a apregoá-las ou esforçar-se para parecer que as tinha. Mas, os tempos mudaram muito. Aliás, em alguns aspectos do relacionamento humano, parece que voltamos ao tempo da barbárie.
Mas, vamos nos ater ao tema da mentira. Hoje, mais do que nunca, ela ganhou status, desfila nos mais refinados ambientes dos Tribunais, em palanques, nos gabinetes dos poderes públicos, nos palácios, notadamente, de Brasília. A mentira já nem liga se tem pernas curtas. Ela está tão desavergonhada, tão sem pudor que mesmo identificada, não se importa de sustentar um sorriso irônico e escarnecedor, troçando de seus desafetos.
Faz promessas ou juras que não pretende cumprir e até se traveste de verdade, audaciosa e descaradamente. Claro que ela se apoia na impunidade, muitas vezes. Hoje dir-se-ia que há dentro do Brasil uma verdadeira nação da mentira. A mentira criou realmente um poder paralelo, assim como está acontecendo, infelizmente, com a violência.
A força de persuasão de certas mentiras acaba por elidir qualquer possibilidade de a extirparem. Hoje em dia, é tal o seu poder de convicção, que alguns indivíduos se elegem em face da enganação, da mentira. Mentir e mentir sempre, até as penúltimas consequências.
A mentira tem ainda um lado mais cruel. É quando ela se alia à infâmia, à calúnia e à difamação. Quando se imputa a alguém, sem provas, um fato definido, seja como crime, seja como uma ação imoral, ou ilegal etc. Nestas circunstâncias a mentira é ainda mais desleal e traiçoeira. Algumas vezes se vale da confiança alheia para disseminar intriga ou ódio contra alguém ou alguns.
Relembrando minha avó, ela também costumava dizer que às vezes a cobra morre pelo próprio veneno. Contudo, digo eu, nem sempre isto acontece, pois a mentira, quando muito arraigada, costuma resistir e ressurgir sempre, pelo hábito. A sua peçonha a realimenta.
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