No passado existiam de um lado os
cidadãos de bem e do outro lado os outros. Que eram cidadãos de bem? É simples
esta resposta, eram pessoas que tinham consciência da cidadania e conseguiam
garantir seus direitos, poderíamos até dizer simplesmente, eram pessoas que
possuíam o direito de voto. Talvez já se tenha perdido a memória, mas voto
universal é algo recente. No Brasil Colônia votavam somente os “homens bons”,
ou seja, pessoas de famílias endinheiradas, senhores de engenho, proprietários
de escravos e só os homens.
Em 1964 a repressão serve
diretamente no combate explícito de qualquer movimento popular, e esta
repressão veladamente é aprovada pelos remanescentes dos “bons homens” do
Brasil Colônia. Um prisioneiro comum ser torturado pela polícia era um fato
corrente até trinta anos atrás, mesmo após a democratização.
Com o desenvolvimento dos
movimentos de direitos humanos, torturas explícitas e públicas a suspeitos de
crimes vai diminuindo ano a ano, porém as condições dos presídios brasileiros,
verdadeiros resquícios de prisões medievais, confirma que ainda se está longe
de um Estado para todos.
A falta de pudor da imprensa
brasileira, que expunha suspeitos de baixo nível de renda ao ridículo, vem diminuindo
a cada dia, mas quando se mata uma pessoa por dia nas nossas favelas se acha
muito natural, entretanto quando um representante dos “bons homens” é morto num
ato de um criminoso qualquer saem para as ruas grupos vestidos de branco
pedindo paz e segurança.
Estamos na presença de dois
movimentos inversos, o sentido de cidadania que aumenta a cada dia na população
em geral, e o medo que se alastra por todos os descendentes dos “bons homens”
que muitos no fundo de sua mente ainda gostaria de uma polícia com seu próprio
arbítrio “pedalasse” na porta de qualquer comunidade popular a busca de
suspeitos de crimes.
Enquanto não houver a conciliação
entre o direito da maioria com o fim do sentido de “bom homem” em toda a
sociedade a polícia ficará entre a cruz e a espada, ou reprime sem grandes
preocupações com as leis tornando-se arbitrária e truculenta ou segue conceitos
de direitos universais e é taxada de leniente ineficiente.
O arquivamento do processo civilizatório é quase isso, ou mais.
O arquivamento do processo civilizatório é quase isso, ou mais.
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