Considerado
uma "transposição baiana", o Baixio da Boa Vista abrange áreas dos
municípios de Xique-Xique, Itaguaçu da Bahia, Jussara e Sento Sé, no sertão
baiano. É o maior projeto de irrigação ainda em fase de construção do país.
Além de retirar muita água do rio São Francisco, o projeto vem desalojando
comunidades ribeirinhas e catingueiras e prejudicará assentamentos de reforma
agrária.
O
projeto corresponde a uma área de 59 mil hectares, divididas em oito etapas, na
região do sub-médio São Francisco, sendo que as maiores áreas estão nos
municípios de Xique-Xique e Itaguaçu da Bahia. O principal objetivo é a
produção de agro energia – cana de açúcar para etanol e plantas oleaginosas
(mamona, pinhão manso etc.) para diesel, além da fruticultura irrigada.
Em
visita à área do projeto, agentes da Comissão
Pastoral da Terra (CPT) e da Paróquia de Xique-Xique estiveram em 18
comunidades atingidas diretamente e
mais cinco que estão nas proximidades, totalizando 23 comunidades. O sentimento
de todos é de grande indignação, diante da falta de
informação às comunidades que vivem em condições de pobreza extrema.
Na
comunidade de Boa Vista, no município de Xique-Xique, às margens do São Francisco,
próximo de onde começa o canal, 500 famílias sentem-se inseguras com as
conversas alarmantes dos engenheiros da Empresa Sul Americana de Montagens
(EMSA) e da CODEVASF, dizendo que terão de sair.
Alguns
moradores da comunidade já perderam suas áreas de roçados e "soltas"
(áreas devolutas de uso comum para pastagem), historicamente da comunidade.
Segundo moradores "a maior preocupação é ter que sair, como disseram os
engenheiros; além disso, foram feitas ofertas irrisórias pelas posses, no valor
de R$ 5.000,00 até R$ 25.000,00". A situação é de desespero, pois não há
consenso entre a comunidade. Alguns dizem "antes pouco do que nada" e
outros pretendem "resistir, enfrentar, ficar..."
Moradores da região – alguns com mais de 80
anos – trazem viva na memória a expulsão provocada pela construção da barragem
de Sobradinho, no final dos anos 70. Além de vítimas da barragem, sofreram com
violenta grilagem de terra que os expulsou e os marcou profundamente: "Fomos
retirados das ilhas e da margem do São Francisco pela CHESF para a construção
de Sobradinho, fomos para a Serra do Rumo e quando nós já estávamos produzindo
e criando fomos expulsos por pistoleiros que queimaram nossos barracos e roças,
não deixaram nem os poleiros das galinhas. Agora estamos aqui e o que vai ser
de nós?".
No
município de Itaguaçu, já são vistos os impactos indiretos: as grandes
fazendas, típicos latifúndios do sertão baiano, em volta de assentamentos de
reforma agrária com mais de 20 anos, estão sendo "vendidas" para
grandes empresas, como a Brasil Ecodiesel, já instalada na região. Novas e
extensas cercas demarcam o espaço de novos donos, entre os quais
"compradores" estrangeiros. Tal como os antigos moradores, também os
assentados têm sua sobrevivência ameaçada, pois sua principal fonte de renda é
a criação de animais nos "fechos de pasto".
Todo
o investimento público feito na reforma agrária está sendo anulado por outro
investimento público, agora no chamado negócio dos agrocombustíveis. Este,
muito mais vultoso, terá, com certeza, "milhões" de chances a mais
de sucesso, para o bem do "desenvolvimento sustentável". A bem de
quem mesmo?
(Com informações da Pastoral da Terra)
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