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OS AGRICULTORES POBRES  SERÃO BENEFICIADOS COM O BAIXIO DA BOA VISTA?

3/26/2018


Considerado uma "transposição baiana", o Baixio da Boa Vista abrange áreas dos municípios de Xique-Xique, Itaguaçu da Bahia, Jussara e Sento Sé, no sertão baiano. É o maior projeto de irrigação ainda em fase de construção do país. Além de retirar muita água do rio São Francisco, o projeto vem desalojando comunidades ribeirinhas e catingueiras e prejudicará assentamentos de reforma agrária.

O projeto corresponde a uma área de 59 mil hectares, divididas em oito etapas, na região do sub-médio São Francisco, sendo que as maiores áreas estão nos municípios de Xique-Xique e Itaguaçu da Bahia. O principal objetivo é a produção de agro energia – cana de açúcar para etanol e plantas oleaginosas (mamona, pinhão manso etc.) para diesel, além da fruticultura irrigada.

Em visita à área do projeto, agentes da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e da Paróquia de Xique-Xique estiveram em 18 comunidades  atingidas diretamente e mais cinco que estão nas proximidades, totalizando 23 comunidades. O sentimento de todos é de grande indignação, diante da falta de informação às comunidades que vivem em condições de pobreza extrema.

Na comunidade de Boa Vista, no município de Xique-Xique, às margens do São Francisco, próximo de onde começa o canal, 500 famílias sentem-se inseguras com as conversas alarmantes dos engenheiros da Empresa Sul Americana de Montagens (EMSA) e da CODEVASF, dizendo que terão de sair.

Alguns moradores da comunidade já perderam suas áreas de roçados e "soltas" (áreas devolutas de uso comum para pastagem), historicamente da comunidade. Segundo moradores "a maior preocupação é ter que sair, como disseram os engenheiros; além disso, foram feitas ofertas irrisórias pelas posses, no valor de R$ 5.000,00 até R$ 25.000,00". A situação é de desespero, pois não há consenso entre a comunidade. Alguns dizem "antes pouco do que nada" e outros pretendem "resistir, enfrentar, ficar..."

Moradores da região – alguns com mais de 80 anos – trazem viva na memória a expulsão provocada pela construção da barragem de Sobradinho, no final dos anos 70. Além de vítimas da barragem, sofreram com violenta grilagem de terra que os expulsou e os marcou profundamente: "Fomos retirados das ilhas e da margem do São Francisco pela CHESF para a construção de Sobradinho, fomos para a Serra do Rumo e quando nós já estávamos produzindo e criando fomos expulsos por pistoleiros que queimaram nossos barracos e roças, não deixaram nem os poleiros das galinhas. Agora estamos aqui e o que vai ser de nós?".

No município de Itaguaçu, já são vistos os impactos indiretos: as grandes fazendas, típicos latifúndios do sertão baiano, em volta de assentamentos de reforma agrária com mais de 20 anos, estão sendo "vendidas" para grandes empresas, como a Brasil Ecodiesel, já instalada na região. Novas e extensas cercas demarcam o espaço de novos donos, entre os quais "compradores" estrangeiros. Tal como os antigos moradores, também os assentados têm sua sobrevivência ameaçada, pois sua principal fonte de renda é a criação de animais nos "fechos de pasto".

Todo o investimento público feito na reforma agrária está sendo anulado por outro investimento público, agora no chamado negócio dos agrocombustíveis. Este, muito mais vultoso, terá, com certeza, "milhões" de chances a mais de sucesso, para o bem do "desenvolvimento sustentável". A bem de quem mesmo?

(Com informações da Pastoral da Terra)

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