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MÃE D'ÁGUA

4/11/2018




Quando eu pescava lá para as bandas do Mangue Fundo e da vila de Utinga, ao Norte da Ipueira de Xique-Xique, vez por outra enxergava, não muito longe, uma mulher muito bonita que me encantava. Os seus cabelos longos e negros reluziam como o brilho do sol.  A atraente e graciosa criatura emergia do fundo das águas e nadava até   à margem do rio, exatamente no local onde eu costumava encostar a minha canoa. Tinha eu o especial dom de poder observá-la com admiração, sem me enfeitiçar.  Não era pra qualquer ser humano ver a Mãe D’Água, sem se enfeitiçar. Mas eu, incólume, podia vê-la seminua na beira do rio. Ela sentava sobre as pedras e ficava a pentear os seus longos e negros cabelos com seu pente de ouro.

Já sabia, por ouvir dizer, que a sua beleza fazia com que  muitos pescadores se apaixonassem e lhe ofertassem  perfumes, sabonetes, águas de cheiro e enfeites para os seus cabelos. Os pescadores costumavam deixar esses agrados em cima das pedras nas quais a Mãe D'Água aparecia e sem que percebessem, ela apanhava os presentes e por gratidão ajudava os seus admiradores a pegar muitos peixes nas pescarias. Eu mesmo já fui muito favorecido pela Mãe D’Água. 

Acredito, ainda hoje, na energia e nas forças do mundo invisível e a fé pela deusa das águas proporcionou-me, durante muito tempo, muitas venturas e felicidades advindas da beira do Velho Chico. Tanto é que estou aqui e agora são e salvo.

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