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LENDAS DO VELHO CHICO

12/05/2018

 

O NÊGO D’ÁGUA

Estava eu  indo para o Icatu e quando passava pelo Canal do Guaxinim  o "nêgo d'água"  emergiu das águas e apareceu  ao lado do meu barco, querendo cachaça e fumo. Por sorte levava comigo os objetos do desejo do compadre.

Para quem não sabe o nêgo d´água vive  no meio do rio, nos locais onde existem rochedos e perto das c'roas. O tal sujeito gosta de fazer locas cavando os barrancos, provocando o deslizamento das terras. Para afugentá-lo ou amedrontá-lo, nós beiradeiros  colocamos armadilhas de pregos e vidros nos lameiros. 


Apesar de viver também fora d'água ele nunca se afasta muito da beira do rio durante as suas andanças e estripulias. Quando implica com um pescador, por vingança afugenta os peixes, tange-os para longe da rede de pesca.  Adora fumo e faz chacotas e zombarias com quem com ele se depara. Conhecedores do vício, os pescadores atiram fumo na água para angariar a sua simpatia.


Em noite de farinhada, o tal elemento costuma habitualmente aparecer nas casas de farinha das ilhas, depois que os trabalhadores se acomodam para dormir. É quando ele passeia entre os que estão adormecidos para roubar-lhes fumo,  beiju e cachaça.

Um pescador contou-me que pescava à noite, de lua cheia,  quando percebeu um vulto  boiando na correnteza. Remou apressadamente em sua direção e ao se aproximar, viu que se tratava de um cavalo morto. Tentou encostar a embarcação para verificar a marca ou ferro e assim  avisar ao dono, quando o animal afundou e, logo em seguida, a canoa foi sacudida. Era o nêgo d'água agarrado à borda da embarcação tentando virá-la.

Nesse instante o pescador lembrou que trazia consigo um pedaço de fumo. Imediatamente o atirou para o elemento que, dando cambalhotas e esbravejando, desapareceu no fundo do rio.

Alguns dizem que existe apenas um nêgo d'água em todo o rio São Francisco, outros dizem que são muitos. O fato é que o bicho povoa na imaginação de muitos meninos beiradeiros e à noite raros são os meninos que se aproximam do rio.

Quanto ao nêgo d'água que me apareceu no canal do Guaxinim, confesso que nunca mais o ví, nem quero mais ver essa “livusia” mal assombrada.


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