Pescava eu lá para as bandas do Mangue Fundo, ao Norte da Ipueira, e vez por outra enxergava, não muito longe, uma mulher muito bonita que me encantava. Os seus cabelos longos e negros reluziam como o brilho do sol.
A atraente e graciosa criatura emergia do fundo das águas e nadava até à margem do rio, exatamente no local onde eu costumava encostar a minha canoa.
Assenhoreava-me do especial dom de poder observá-la com admiração, sem me enfeitiçar. Não era pra qualquer ser humano ver a Mãe D’Água, sem se enfeitiçar. Mas, incólume, podia vê-la seminua na beira do rio. Ela sentava sobre as pedras e ficava a pentear os seus longos e negros cabelos com seu pente de ouro.
Já sabia que a sua beleza contagiante fazia com que muitos pescadores se apaixonassem e lhe ofertassem perfumes, sabonetes, águas de cheiro e enfeites para os seus cabelos.
Os pescadores costumavam deixar esses agrados em cima das pedras nas quais a Mãe D'Água aparecia e sem que percebessem, ela apanhava os presentes e por gratidão ajudava os seus devotos a pegar muitos peixes. Eu mesmo já fui favorecido pela Mãe D’Água.
Desconfio que a energia e as forças do mundo invisível somadas ao credo pela deusa das águas, proporcionaram-me, durante algum tempo, muitas fortunas e regozijos advindos da beira do Velho Chico.
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