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UMA ESMOLINHA PRA JEJUAR NO DIA DE HOJE

4/19/2019



Ainda é costume, nos dias da Semana Santa, respeitar algumas tradições repletas de proibições para os fiéis. Entre elas: Olhar-se no espelho, usar maquiagem e qualquer perfume, por serem sinais de vaidade. Tomar banho vendo o próprio corpo nu, provoca pensamentos pecaminosos. Namorar, dançar, assobiar, comete-se pecado, por serem sinais de alegria, pois Jesus passou o período inteiro sofrendo, segundo os mais devotos.

O maior de todos os pecados, contudo, é o de manter relações sexuais, principalmente na Sexta-Feira da Paixão. O homem que assim proceder, solteiro ou mesmo casado, fica impotente para o resto da vida, e a mulher, incapacitada para gerar filhos. E, se nesse dia, uma criança for gerada, nascerá com o chamado "cão no couro", ficará aperreada, sendo infeliz até a morte.

Roga-se na Semana Santa: "Dona, me dê uma esmolinha pra jejuar o dia de hoje!"  É o humilde apelo que ainda se ouve na Quinta e na Sexta-Feira Santa da Quaresma  nestas bandas ribeirinhas do médio São Francisco e da Ipueira, sertão de tantas tradições e de religiosidade quase mística. Pessoas consideradas pobres, crianças da periferia batem nas portas das casas, com uma sacolinha na mão a pedir o jejum que lhes permitirá, provavelmente, uma refeição decente na Sexta-feira da Paixão. 

Ninguém ousa recusar a oferta nem pede para o devoto-esmoler passar outro dia. Tem que ser na Sexta-Feira da Paixão.  Afinal, "repartir" o jejum é garantir para todos os dias do ano a fartura de que faz a oferta. Então, lá se vai uma batatinha, uma laranja, uma banana, uma talhada de abóbora um pouco de farinha e de feijão... Nada de sobras. A própria compra da semana já garante uma cota para esta doação. Evidentemente que o costume, com o crescimento das cidades e a chegada de forasteiros, está diminuindo e tende a acabar, inclusive aqui em Xiquexique.

O ritual de pedir esmola pra jejuar segue na manhã da Sexta-feira Santa, quando os ricos, os abonados, permutam bandejas de iguarias típicas da Quaresma e os pobres esmolam de porta em porta.

Seguindo o ritual, muita gente diz que vai beber vinho “amargo”, sob o  corriqueiro argumento de que é dia de sofrer a paixão.

Nilson Machado de Azevedo

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