Pesquisar no blog!




Negócios da China no povoado de Boa Vista

1/11/2013


Ao amanhecer faço todos os dias  uma caminhada de quarenta minutos, circulando um parque. Hoje, deparei-me com um bando de pardais que raramente pousa e saltita aqui  no parque.

Assim, lembrei-me haver lido num desses antigos  almanaques  que os pardais já foram alvo de grande campanha antrópica, sendo tenazmente combatidos durante a Revolução Cultural Chinesa, porquanto, segundo a ideologia de então, cada um pardal consumia mais de 4 quilos de grãos por ano nas plantações e se os comunistas chineses  fuzilassem  um  milhão desses passarinhos capitalistas, impopulares, mesmo que não enviassem  a conta da despesa da bala para a família dessas aves, haveria produção  de comida para 60 mil pessoas por dia, o que representaria pouca gente, em se tratando da República Popular da  China de aproximadamente 1 bilhão e 400 milhões de habitantes.

Assim, armados de patrióticos e prosaicos estilingues ou baladeiras, os chineses foram à luta contra os pardais, destruindo ninhos, quebrando ovos, matando os filhotes.  Na Província de Shandong, a grande produtora de um tecido de seda chamado xantung, massacraram mais de dois milhões de pardais.

Esqueceram-se, no entanto, dos gafanhotos. Sequer lembraram-se de um pormenor crucial  a informar que uma das iguarias preferidas dos pardais, além de grãos, são exatamente os gafanhotos.

Ora pois. Com a mortandade desenfreada dos pardais, seus predadores, os gafanhotos, revisionistas, multiplicaram-se e de um só golpe capitalista destruíram a produção de arroz, matando de fome cerca de 30 milhões de chineses.

Mao Tsé-Tung, o grande líder do partido comunista, considerou os gafanhotos a arma secreta das forças reacionárias capitalistas, acionada pelos Estados Unidos da América. Isso no final dos anos 50 e início dos anos 60 do século XX.

Atualmente, a nação mais antiga do mundo já não se importa com os pardais nem  com gafanhotos.  Vale-se da sabedoria de Confúcio, de Lao-Tsé , do Tai Chi Chuan e do Budismo para fazer os seus negócios incluindo, também,  os  minérios da empresa brasileira Vale do Rio Doce. O avanço na economia de mercado faz da China a segunda maior economia do mundo, apenas superada pelos concorrentes e rivais Estados Unidos da América do Norte.

É nesse viés de alta de negócios da China que estou pretendendo adquirir  alguns hectares de terra nas cercanias do Baixio da Boa Vista.

Informaram-me, em off, que o cultivo  de cruilí, araticum cagão, muçambê e melão de são Caetano, quando  transformados em matéria prima, ou commodities, serão amplamente negociados nos mercados à vista e futuro dos países orientais.

No povoado da Boa Vista ainda não vi nenhum pardal, vi de longe , voando sobre os canais de concreto do Projeto de Irrigação, somente casacas de couro, cabeças vermelhas e juritis, além de um ou outro canário, passarinhos que não caçam gafanhotos.

Sabemos, de própria experiência, que gafanhotos não faltam em Xiquexique. Eles, sem aviso prévio, já infestaram a cidade em algum tempo não muito distante e se não os enfrentarmos, frequentemente, com a sinfonia dos combativos pardais, eles voltarão da forma seletiva e evolutiva,  multiplicando-se  com mais força..


Nilson Machado de Azevedo

2 comentários:

Anônimo disse...

SEM NOME...
"Pardais" e/ou os "vampiros..."

Ao ler teus textos sempre envolvo-me em reflexões, atrás de cada palavra tua existe um outro significado. Reportei-me aos Vampiros do Zeca Afonso:


No céu cinzento sob o astro mudo
Batendo as asas Pela noite calada
Vêm em bandos Com pés veludo
Chupar o sangue Fresco da manada

Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia As portas à chegada
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada

A toda a parte Chegam os vampiros
Poisam nos prédios Poisam nas calçadas
Trazem no ventre Despojos antigos
Mas nada os prende Às vidas acabadas

São os mordomos Do universo todo
Senhores à força Mandadores sem lei
Enchem as tulhas Bebem vinho novo
Dançam a ronda No pinhal do rei

Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada

No chão do medo Tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos Na noite abafada
Jazem nos fossos Vítimas dum credo
E não se esgota O sangue da manada

Se alguém se engana Com seu ar sisudo
E lhe franqueia As portas à chegada
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada

Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada

13/1/13 00:28
abner disse...

Uma pequena correção é a China dos anos 60 (época da caça aos pardais), ainda não possuia 1 bilhão e 400 mil habitantes.
As sementes podem ser facilmente protegidas com sua imersão em piche, que as deixa impróprias para o consumo de aaves, que passam a evitá-las, pelo mal cheiro, mas não prejudica sua germinação e nem o produto final. Também esta prática não causa nenhum impacto ambiental, além do que a agricultura em sí já faz por sua natureza.

16/11/14 11:18

Postar um comentário

Os comentários serão de responsabilidade dos autores. podendo responder peço conteúdo postado!