Vamos esclarecer alguns pontos. Os médicos cubanos que estão no Brasil pelo programa Mais Médicos têm vínculo como funcionários públicos do governo de Cuba e, se há milhares deles que já serviram em mais de sessenta países e não pediram asilo, é porque a grande maioria tem compromissos sinceros com sua nação.
É preciso entender também que, ao viverem em um regime socialista, criado por uma revolução popular, estas pessoas geralmente têm convicções diferentes das que estamos acostumados a ver e têm valores que a maioria dos indivíduos de uma sociedade francamente competitiva como a capitalista costuma não ter, como fraternidade e igualdade.
E sim, acredite, cubanos se engajam mais em projetos coletivos de nação do que em projetos individuais. A própria relação com o dinheiro costuma ser diferente. Se os salários podem ser – e são – bem mais baixos se comparados a economias de mercado como a nossa, o trabalhador que vive em Cuba tem subsídios para alimentos, moradia, total gratuidade na saúde e educação de qualidade, o que equivale a remuneração indireta na forma de benefícios.
Por outro lado, numa economia de mercado, os valores de aluguel, de prestação de casa própria, plano de saúde, escolas e supermercado exigem e impõem que os trabalhadores sejam remunerados com salários muito maiores, evidentemente.
Não se discute aqui se é melhor ou pior. Apenas é preciso entender que o cidadão ou a cidadã de Cuba simplesmente pensa diferente.
Contudo, parlamentares do PSDB e do DEM – como Ronaldo Caiado (DEM-GO), Domingos Sávio (PSDB-MG), Jutahy Junior (PSDB-BA) e outros – estão agindo para sabotar o Mais Médicos, explorando um caso individual para tentar criar todo tipo de dificuldade e inviabilizar o programa de saúde pública. E para isso usam uma lógica que não deveria ser aplicada aqui.
Vamos ao caso. Se a médica Ramona Matos Rodriguez, assim como uma minoria, diga-se bem pequena, de outros médicos cubanos resolveu "desertar", se desligar do Mais Médicos pensando em ganhar mais dinheiro em Miami, é uma escolha individual dela, um direito que lhe assiste, embora seja difícil acreditar que ela não soubesse que seu ganho líquido seria bem menor que o dos colegas brasileiros e que a maior parte iria para o governo cubano.
Que ela se utilize das leis brasileiras para pedir refúgio provisório no Brasil até conseguir asilo nos Estados Unidos também faz parte. O que ela não pode é agir em desacordo com as leis brasileiras, especialmente com apoio de parlamentares brasileiros.
Mas Caiado e seus colegas de oposição, sejam parlamentares, sejam de associações médicas, estão induzindo Ramona a violar o estatuto do estrangeiro quando a colocam para difamar e conspirar contra todo o programa Mais Médicos, indo além de sua decisão pessoal. Essa conduta é passível de expulsão do país.
Na prática, a manobra pode acabar tirando alguns médicos do povo brasileiro e levá-los para Miami. Se trabalharem por lá, o povo de Miami ficará agradecido, mas será que os nobres deputados se perguntam como ficarão cidades como Pacajás e as outras que podem padecer sem médico para a atenção básica?
Ou seja, usar o pedido de asilo à embaixada dos Estados Unidos pela médica Ramona Rodriguez para criar uma nova onda de reportagens desfavoráveis ao programa de saúde popular desconsidera as necessidades e o sofrimento de um imenso número de brasileiros, tomando como princípio que o mais importante é prejudicar o governo federal.
Outro desastre oposicionista é a recente declaração do senador Aécio Neves (PSDB-MG), que afirmou que, se eleito presidente, iria romper o contrato com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), que traz os médicos cubanos, para contratá-los como os demais médicos avulsos de outros países.
São muito poucos os médicos cubanos que aceitam "desertar", como propõe Aécio.
E mesmo os pouquíssimos casos isolados, como o de Ramona, têm mais atração pelos Estados Unidos do que pelo Brasil, onde, inclusive, foram hostilizados por parte da classe médica. Na prática, a proposta de Aécio mataria Mais Médicos, sem que houvesse uma solução que suprisse as carências do setor no país, deixando o povo brasileiro na mão.
A oposição usa Ramona acreditando que Dilma Rousseff perderia votos. Mas com essa postura de fazer uma guerra fria contra Cuba e contra o Mais Médicos, deixando o paciente brasileiro à própria sorte, só sobrará ao PSDB e o DEM os eleitores fanáticos anti-Cuba, fãs da revista Veja. Assim, essa oposição é a que a presidenta pediu a Deus.
Para encerrar: se só há um país no mundo com capacidade de oferecer (bons) médicos rapidamente e este país tem suas regras, nós, que precisamos de médicos, não estamos em posição de impor condições que dizem respeito aos assuntos internos deste país. Como se diz no jargão popular, é pegar ou largar.
Fonte: Brasil Atual
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