As emoções desatadas pelo trágico desaparecimento de
Eduardo Campos, o candidato presidencial do Partido Socialista Brasileiro
(PSB), revolucionaram a campanha.
Campos
é, post mortem, o representante de muitos cidadãos que mal o conheciam quando
estava vivo. Essa canonização agiganta a sua vice, Marina Silva, que ocupou o
seu lugar.
A fórmula inicial do PSB tinha a extravagância de que Marina era muito mais
conhecida do que Campos. Em 2010, ela havia conseguido 20 milhões de votos como
candidata a presidente.
Com a
morte de Campos, Dilma enfrenta Maria Osmarina. Segundo o Datafolha, ela deslocou Aécio Neves, do PSDB, para o terceiro lugar. Em um eventual segundo turno contra Dilma, Marina poderia triunfar segundo alvoroçam as pesquisas da Folha.
A
herdeira de Campos é a figura mais perigosa com que o PT se poderia chocar. Não
é, como Aécio, um antibiótico. É uma vacina. É composta de uma substância
parecida com a de seu rival.
A
biografia de Marina Silva parece, como a de Lula da Silva, um roteiro de Hollywood. Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima, seu nome completo, nasceu em 8
de fevereiro de 1958 em uma pequena comunidade chamada colocação Breu Velho, no
Seringal Bagaço, no Acre.
Nasceu em uma família de
agricultores, trabalhadores e donas de casa do Estado do Acre. Aos seis anos,
uma intoxicação com mercúrio lhe causou transtornos que a afetam ainda hoje.
Teve cinco malárias e três hepatites. Quando criança, perdeu a mãe. Trabalhou
como empregada doméstica. Aprendeu a ler aos 16 anos. Formou-se em História.
Casou-se, separou-se, voltou a se casar. Tem quatro filhos. Há dez anos é
evangélica, da Assembleia de Deus.
Dilma se apoiou no pai do PT. Sua campanha defende “o país de Dilma e Lula”.
Mas Marina pode ser vista, em um desdobramento subliminar. Foi ministra de
Lula, tem apelo para uma esquerda desencantada.
Marina
representa um ambientalismo algo nebuloso, o regresso a um paraíso perdido que
combina com a antropologia radical de Eduardo Viveiros de Castro. Com um
fraseado discreto, defende o compromisso com a sustentabilidade do meio
ambiente, produtiva, urbana. O partido de Marina, batizado com duas palavras da
moda, Rede Sustentabilidade, diz rejeitar doações de empresas de tabaco, agrotóxicos
e bebidas alcoólicas.
Os
rivais apresentam a intransigente Marina como uma Joana d’Arc da floresta. Ela
tenta escapar desse retrato com o auxílio de dois multimilionários poderosos.
Um é Guilherme Leal, dono da Natura, uma multinacional de cosméticos
identificada com a preservação do meio ambiente.
A
outra aliada é Maria Alice Setúbal, Neca, acionista do Banco Itaú, o mais
importante banco privado do país. Neca acaba de agitar a cena eleitoral com
suas declarações à Folha de S. Paulo. Revelou que Marina promoveria uma lei
para a autonomia do Banco Central e fixaria uma meta de inflação mais rigorosa,
de 4,5%, descendente até os 3% em quatro anos. E também antecipou a
incorporação de outros financistas ao entorno da candidata.
Marina
Silva diz pretendee tranquilizar o mercado e seduzir os eleitores urbanos de Aécio
que, com a assessoria de Armínio Fraga, combate as estratégias econômicas do
governo de Dilma. É natural que Marina se
rodeie de economistas ortodoxos, como Eduardo Giannetti ou André Lara Resende,
um dos pais do Plano Real. Giannetti
acaba de definir o programa da candidata: câmbio flutuante, superávit primário
e metas de inflação.
Marina expõe o seu lado B com inclinação ao sectarismo
que já provoca faíscas com os líderes do PSB. Mas ela desfruta de um encanto
próprio de candidatos como Lula ou Obama: consegue fazer com que muitos
eleitores projetem sobre sua figura as melhores fantasias. O prodígio pode desvanecer-se.
Mas o percurso é curto. Por ora, Marina encarna melhor que ninguém a inclinação
da sociedade brasileira à mudança. Uma mudança de contornos pouco definidos. Uma caixa de Pandora ou ela mesma.
El País
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