Chico Buarque foi cercado na noite da
última segunda-feira no Leblon, Zona Sul do Rio de Janeiro, onde reside, por um
grupo de jovens fascistas que se declararam ‘antipetistas’. O cantor e
compositor, que tem posições políticas assumidamente de esquerda, defendeu o Partido
dos Trabalhadores (PT).
Chico
saía de um jantar no restaurante Sushi Leblon, localizado na Rua Dias Ferreira,
acompanhado do cineasta Cacá Diegues e do escritor e jornalista Eric
Napomuceno.
Entre
os coxas agressores que abordaram o ícone da MPB estava o filho de Álvaro Garnero, pretensioso
empresário paulista. Herdeiro de uma família que se diz tradicional, Álvaro se filiou ao
PRB e cogitou ser candidato a deputado federal.
Um
dos arruaceiros grita: “Petista, vá morar em Paris. O PT é bandido”. Em
resposta, Chico diz, em tom de voz controlado: “Eu acho que o PSDB é bandido, e
aí?”.
Apesar
da agressividade dos playboys pessedebistas, Chico permaneceu calmo e ironizou a posição
política do grupo, dizendo que “com base na revista Veja, não dá para se
informar”. Um dos agressores, então, replica: “A minha opinião é a minha
opinião”.
Chico Buarque é um verdadeiro mito da música e da militância. Um dos grandes artistas que burlaram a ditadura – como esquecer a genial Jorge Maravilha que, reza a lenda, referia-se à filha do ex-presidente Ernesto Geisel?
É um artista brasileiro que jamais será
esquecido. É aquele que já escreveu a sua história e ajudou – ainda ajuda, ao
que nos parece – a escrever a história política de seu país. Ele definitivamente
não precisa provar nada a ninguém.
Não precisa consumir os próprios
neurônios discutindo com meia dúzia de jovens arruaceiros que provavelmente não têm a menor
ideia do que estão dizendo. Não precisa, definitivamente, estragar o próprio
jantar preocupando-se com os impropérios de quem – francamente! – não deveria
sequer ter a pachorra de se dirigir a ele.
Chico não precisou levantar a voz para
os fascistas que o abordaram na saída de um restaurante. Há pessoas que não
merecem o nosso latim. É como jogar pérolas aos porcos, como diria a minha avó.
Nenhum grito vazio em pleno Leblon
falaria mais do que a genial letra de “Cálice.” Nenhum insulto odioso seria
mais didático que “Acorda amor”. A obra de Chico fala por ele. Do mesmo modo, o
nosso discurso – sutil, elegante, calmo – fala por nós. Aliás, é inútil tentar convencer quem não quer construir absolutamente nada além do alvoroço.
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