Afirmo de viva voz que
já me deparei com o folclórico Nêgo D’Água,
o elemento de corpo disforme e olho no meio da testa que eu mesmo vi e me
tremo até hoje, embora há gente, incrédula, que diz
que tudo que conto não passa de lenda ou
história do Trancoso. Pois sim.
Eis o causo:
Estava eu a bordo de uma barca navegando pelo canal do Guaxinim, indo de Xique-Xique para o povoado do Icatú, quando o Nêgo D'Água"
emergiu das águas barrentas e apareceu
bem ao lado da minha embarcação, querendo fumo de rolo.
Por sorte, levava comigo o objeto do desejo do
“compadre” e de brinde ainda joguei pra ele uma garrafa de cachaça catuzeira.
Para quem não sabe, o Nêgo
d’Água vive no meio do rio, perto das
c'roas, especialmente em locais onde
existem pedras e rochedos. Ele gosta de fazer locas cavando os barrancos,
provocando o deslizamento das terras, assoreando o rio. Os pescadores colocam
armadilhas perto das plantações cultivadas nos lameiros, na vã tentativa
de aprisioná-lo. Nunca conseguiram a
façanha.
Apesar de viver também
fora d'água ele nunca se afasta muito da
beira do rio. Quando não gosta ou implica com um pescador, afugenta os peixes tangendo-os para longe da
rede de pesca.
Adora fumo.
Conhecedores desse vício, os pescadores jogam pedaços de fumo na água para obter a simpatia desse caboclo.
Adora fumo.
Conhecedores desse vício, os pescadores jogam pedaços de fumo na água para obter a simpatia desse caboclo.
Ele costuma aparecer em noites de farinhada, nas casas de farinha das ilhas do “Velho Chico” e quando os beradeiros
se acomodam nas esteiras e redes para dormir, o Nêgo
D’Água, sorrateiramente, perambula entre os pescadores que estão adormecidos, para
roubar fumo, cachaça, farinha, carne de bode, manteiga de garrafa e beijú de tapioca.
Um pescador
conversando comigo numa bodega defronte à Ipueira em Xique-Xique, contou-me que pescava em noite de lua cheia, perto da Ilha
do Paulista, em Xique-Xique, quando percebeu o vulto de um animal morto boiando
pela correnteza. Remou apressadamente em direção ao animal e, ao se aproximar,
viu que se tratava de um cavalo. Tentou encostar o paquete para verificar a
marca do ferro, para avisar ao dono. No
entanto, o animal afundou e, logo em seguida, a canoa em que estava esse pescador foi fortemente sacudida. Notou,
nesse ínterim, que o Nêgo D'Água, estava agarrado à borda da canoa tentando
afundar a embarcação .
Nesse mesmo instante, o referido pescador lembrou que trazia consigo um pedaço de fumo de rolo. Imediatamente, rezando o “Pai Nosso”, diz ele que jogou
uma porção do fumo para o tal
elemento que, inopinadamente, pegou o presente, largou a canoa e dando muitas cambalhotas
à tona d’água, desapareceu no fundo do rio, soltando estridentes gargalhadas.
Alguns dizem que existe
apenas um Nêgo D'Água em todo o rio São Francisco, outros dizem que são muitos.
O fato é que o bicho povoa a imaginação de muitos beradeiros.
À noite, antes do romper da aurora, raros são os
meninos que se aproximam da beira do rio.
Por causa do Nêgo D’Água
que me apareceu no canal do Guaxinim, do qual saí ileso, até hoje rezo benditos e exorcismos,
especialmente quando vou à Capela de Santana na Ilha do Miradouro em Xique-Xique,
sem falar nas minhas idas à
cidade de Bom Jesus da Lapa por
promessa que ainda estou a cumprir e a pagar.
Nilson Machado de
Azevedo
1 comentários:
isso ai e verdade eu mais o meu primo ja vimos essa livoziar no rio sao frasisco e o negocio estava feio
10/10/16 16:45Postar um comentário
Os comentários serão de responsabilidade dos autores. podendo responder peço conteúdo postado!