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O CAIS DA IPUEIRA

2/23/2019





As feridas urbanas estão expostas a traumatizar a estética desta cidade que um dia, perdido no tempo, foi esconjurada pelo Padre Francisco Sampaio, quando foi ele escorraçado de Xique-Xique,  embarcado  numa canoa furada pelo fato de  haver enfrentado de peito aberto alguns "coronéis" xiquexiquenses do século passado. 

Em Xique-Xique há, sim,   feridas  com ardentes sintomas na orla fluvial. O monstrengo de concreto que se ergue desafiador, sem enfrentar a clava forte, sufoca com os fluidos de ácido úrico e coliformes exteriorizados pelo metabolismo humano, despejados nas quinas sombrias do famigerado “cais”, num premente estado de necessidade sem corar as impudicas faces dos agachados.

A ocupação comercial dos buracos que se abrem sob o muro, foi planejada e permitida por algum artista, surreal, “urbanista”, cuja obra impunemente erguida é de causar repulsas e náuseas, pelo mau gosto estético e odor, para aflição dos escultores, daqui e de alhures.

Se porventura em algum dia  perdido no tempo, for  apagada  de Xique-Xique a idade das trevas que insistentemente turva o céu da Ipueira, talvez haja   o renascimento do cais.

Com a fé que não me costuma falhar,  imagino que nesse  dia de hosanas e louvores, o poluto monstrengo, objeto de olhares assimétricos dos viajantes que casualmente nos visitam, seja  expurgado das margens da Ipueira ao som do Réquiem de Wolfgang Amadeus Mozart e com  louvores a São Francisco de Assis.

Nilson Machado de Azevedo

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