As feridas urbanas estão expostas a
traumatizar a estética desta cidade que um dia, perdido no tempo, foi
esconjurada pelo Padre Francisco Sampaio, quando foi ele escorraçado de
Xique-Xique, embarcado numa
canoa furada pelo fato de haver enfrentado de peito aberto alguns
"coronéis" xiquexiquenses do século passado.
Em Xique-Xique há, sim, feridas com ardentes sintomas na orla fluvial. O monstrengo de concreto que se ergue desafiador, sem enfrentar a clava forte, sufoca com os fluidos de ácido úrico e coliformes exteriorizados pelo metabolismo humano, despejados nas quinas sombrias do famigerado “cais”, num premente estado de necessidade sem corar as impudicas faces dos agachados.
A ocupação comercial dos buracos que se
abrem sob o muro, foi planejada e permitida por algum
artista, surreal, “urbanista”, cuja obra impunemente erguida é de
causar repulsas e náuseas, pelo mau gosto estético e odor, para aflição dos
escultores, daqui e de alhures.
Se porventura em algum dia perdido no tempo, for apagada de Xique-Xique a idade das
trevas que insistentemente turva o céu da Ipueira, talvez haja o renascimento do cais.
Com a fé que não me costuma falhar, imagino que nesse dia de hosanas e louvores, o poluto monstrengo, objeto de olhares assimétricos dos viajantes que casualmente nos visitam, seja expurgado das margens da Ipueira ao som do Réquiem de Wolfgang Amadeus Mozart e com louvores a São Francisco de Assis.
Nilson Machado de Azevedo
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