Estive a ler uma matéria de jornal sobre o episódio da professora universitária, da PUC-Rio de Janeiro, que postou foto de um cidadão “popular” no saguão do Aeroporto Santos Dumont, Zona Sul do Rio, onde criticava os trajes do homem que vestia camiseta regata e bermuda. A descrição da página diz: "Viramos uma rodoviária, perdemos o glamour?”. Ou seja, para essa senhora viajar de avião seria chique , enquanto viajar de ônibus seria humilhante.
Concebe-se que este discurso, sem noção, é amplamente absorvido pela tragédia brasileira, histórica, construída com o caldo da ignorância, do privilégio e da exclusão com os resquícios da colonização portuguesa que introduziu a importação de seres humanos escravizados para o Brasil, mas mantendo uma classe dominante predominantemente branca, bronca e racista .
Nessa mesma linha, muitos brasileiros fazem a maior festa pelo fato de entrarem em uma faculdade.
Cremos que isso se traduz pela cultura da distinção.
Outros tantos brasileiros não tem a mínima preocupação se o curso é ruim. Se o professor é picareta e faltoso. Se não há critério pedagógico. Se não é preciso ler o texto exigido no programa para passar na prova. Ou se a prova é mera formalidade e se passa assim mesmo ou se passa assim mesmo na base do PP. (pagou, passou).
Por isso há comemoração mesmo que se saia do curso com a mesma bagagem cultural, intelectual e técnica de quando se entrou na faculdade e com a mesma condição que nasceu: A de indigente intelectual, insensível socialmente, sem visão minimamente crítica ou sofisticada sobre a sua realidade, do mundo atual e seus conflitos.
É por isso que existe tanto médico que não sabe operar. Tanto advogado que não sabe escrever ou interpretar um texto. Tanto psicólogo que não conhece Freud ou Jung. Tanto jornalista que não lê jornal.
Já vimos, por exemplo, coordenador de curso gritar, em dia de formatura, como líder de torcida em dia de jogo: “vocês, formandos, são privilegiados. Venceram na vida. Fazem parte de uma parcela minoritária e privilegiada da população”.
Por trás desse discurso está uma lógica perversa de dominação. Uma lógica que permite colocar os operários e trabalhadores braçais em seu devido lugar. Por aqui no Brasil, não nos satisfazemos em contratar serviços que não queremos fazer, como lavar, passar, enxugar o chão, lavar a privada, pintar as unhas ou trocar a fralda e dar banho nos filhos. Aproveita-se, até a última ponta, o gosto de dizer: “estou te pagando e enquanto estou pagando eu mando e você obedece”. Para quê chamar a atenção do garçom com discrição se o "distinto" pode fazer um escarcéu se pediu batata-fria e ele entregou mandioca frita?
Ao lembrar ao trabalhador que ele é o serviçal, o "doutor" está querendo lembrar a todos que estudou, que é formado e trabalhou para sentar à mesa de restaurante e, nessa condição, merece ser servido com prioridade e ainda aplaudido pelos garçons.
No entanto, é de se dizer e aprender: Pobre do país cujos diplomados servem, na maioria dos casos, para corroborar essas posições.
Na hipótese aventada, disseram que o doutor preferiu viajar de navio para as Bermudas.
Fonte: R7
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